Um fim de semana na Capitol Hill Baptist Church












Franklin FerreiraNo período de 15 a 19 de maio de 2008 a editora Fiel, onde trabalho, enviou-me aos Estados Unidos para participar de um Weekender promovido pelo "Ministério 9Marcas" na Capitol Hill Baptist Church (CHBC). Trata-se da igreja pastoreada por Mark Dever, autor de vários livros e, entre eles, Nove marcas de uma igreja saudável - já disponível em português. Outros livros dele, são: What Is A Healthy Church?; Deliberadamente igreja (em co-autoria com Paul Alexander); A Display of God's Glory; By Whose Authority?; e The Gospel and Personal Evangelism.O Weekender é uma imersão na vida da CHBC. Assistimos às reuniões dos presbíteros, às classes para os novos membros e fomos apresentados à estrutura da igreja: a escola dominical, a filosofia de ministério e pregação, mentoria de futuros pastores, o programa de missões estrangeiras etc. Também participamos do encontro com os jovens já formados em teologia e que servem na CHBC (sendo preparados para o pastorado), do culto de estudo bíblico na quarta-feira à noite, do culto de pregação da Palavra no domingo pela manhã e do culto de oração, no domingo à noite. Ao final desse último culto, assistimos à assembléia administrativa da igreja.Em todo o tempo, as nove marcas que caracterizam uma igreja saudável são não apenas enfatizadas, mas ilustradas na prática da CHBC: a ênfase na pregação expositiva e na teologia bíblica, a prioridade do evangelho e a compreensão bíblica da conversão, o entendimento bíblico sobre a evangelização, as implicações de ser parte de uma igreja local, a disciplina bíblica na igreja, o discipulado e o crescimento e a primazia do presbiterato.Uma característica marcante dos últimos quinze anos da história da igreja no Brasil é a impressionante proliferação de manuais de crescimento de igreja. O que se tem é, em alguma medida, uma aplicação da velha heresia pelagiana à doutrina da igreja: age-se na confiança de que certo método de crescimento, uma vez posto em prática, pode levar a igreja a crescer. Ainda que se mencione de passagem a necessidade do Espírito, esse, aparentemente, não desempenha papel central na renovação da igreja. Isso não apenas é a capitular a uma heresia mortal, mas se render à presunção de que devoção e igreja podem crescer ou ganhar forma por meio de processos mecânicos de aplicação supostamente genérica.Desnecessário dizer que, no processo de aplicação desses modelos, não raro as igrejas deixam de ser igreja e os pastores deixam de ser pastores. Difícil resistir à conclusão de que, enquanto os pastores começam a se portar como “burocratas eclesiásticos” – para citar a perceptiva frase de Peter Berger –, os membros são vistos apenas como peças de uma engrenagem, parte de uma máquina maior. Em vez de ser vistos como pessoas, com nome, história e dilemas, reunindo-se para adorar e ser cuidados, passam a ser considerados apenas indivíduos úteis para o crescimento da igreja.Também se deve destacar que a história recente da igreja evangélica no Brasil parece ensinar que a relevância cultural, social e política dos cristãos são inversas ao tamanho de algumas grandes igrejas presentes nesse país. Igrejas marcadas por santidade ou pregação da pura Palavra de Deus – para lembrarmos algumas das antigas marcas da igreja – dão lugar a simples ajuntamentos, sem a relevância esperada, como já ocorreu em outros tempos e lugares.Qual a diferença entre o modelo apresentado pela CHBC e os métodos de crescimento de igreja presentes no Brasil? A diferença é que a ênfase da CHBC está na direção oposta de quase todos esses manuais, na medida em que, em nenhum momento, Mark Dever e os demais presbíteros sequer insinuam que o que está acontecendo na CHBC deva ser imitado por outras igrejas. A partir da compreensão de que as nove marcas que distinguem uma igreja saudável são bíblicas, o que se percebe na CHBC é o tratamento pessoal e particular de Deus com uma comunidade peculiar e particular. E o que fica é o estímulo para que apliquemos as nove marcas que caracterizam uma igreja local saudável à situação particular e peculiar em que ministramos. Isso exige não apenas conhecer bem o que a Bíblia ensina sobre o que é ser uma igreja saudável, mas implica conhecer com a mesma seriedade – e conhecer bem – a igreja pela qual somos responsáveis e a localidade onde essa igreja está inserida. O que se enfatiza na igreja contemporânea é a necessidade, não de descobrir mais um novo método, mas redescobrir as marcas bíblicas que caracterizam uma igreja saudável, com o fim de promover crescimento para a glória de Deus.Já que livros como Nove marcas de uma igreja saudável não oferecem algo parecido com um manual ou um modelo de aplicação geral, não espere encontrar nos materiais desse ministério uma resposta à pergunta que já se tornou um clichê: como posso praticar isso em minha igreja? É isso que os manuais e modelos de crescimento de igreja pretendem responder, como se houvesse um modelo aplicável a todas as igrejas, em todo lugar – mais uma capitulação à pressuposição da modernidade de que tudo funciona mecanicamente. O que você tem nos livros e textos desse ministério é uma exposição histórica, bíblica e prática das marcas que caracterizam uma igreja genuinamente saudável.O que vi na CHBC nesses dias reforça minha convicção, nascida em 1996, quando ouvi as pregações de Mark Dever aqui no Brasil, na Conferência para Pastores e Líderes da Fiel. Ao enfatizar as marcas bíblicas de uma igreja saudável, temos um corretivo bíblico para a cultura de “defesa da fortaleza” tão presente em várias igrejas conservadoras e calvinistas – tanto nos EUA como no Brasil. Os que estão à frente dessas comunidades muitas vezes são críticos (e com boa dose de razão) dos vários modelos atuais de crescimento eclesiástico. Só que, além de não oferecerem uma alternativa radicalmente bíblica para a edificação e crescimento da igreja, algumas vezes parecem se conformar em pertencerem a igrejas pequenas – sem relevância missionária, social, política e cultural, que sempre foram marcas das igrejas reformadas. O Ministério 9Marcas oferece não apenas uma correção para esse triste estado, como também proporciona um modelo radicalmente bíblico para a revitalização de nossas congregações e crescimento por meio do discipulado, evangelização e missões.Fonte:O Tempora, O Mores!http://tempora-mores.blogspot.com/

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