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SIMPLES IMPLICAÇÕES DA FÉ EM JESUS

Caio Fabio
O que as pessoas precisam saber é que se elas crêem em Jesus, então, nada pode continuar a ser como tem sido; pois, se as coisas são conforme Jesus disse que elas são, implica que Deus é amor; é Pai; é Filho; é irmão dos homens; é Consolador; é a força que acompanha afirmando e emprenhando de esperança aquele que crê — ao mesmo tempo em que, se crêem em Jesus, precisam admitir que os corações dos homens serão julgados; e as aparências serão desvestidas até o que é verdade, pois, somente os atos do amor sobreviverão.

O que as pessoas precisam saber é que se elas crêem em Jesus, então, elas também crêem que no fim a recompensa é de quem foi feliz porque era humilde e ensinável, porque chorou os bons choros, porque dominou o coração contra os impulsos do ódio ou do descontrole, porque andou com o olhar limpo, com a vontade feita de paz, com a perseverança fundada na justiça, e com a alegria advinda dos céus — de onde terá vindo a redenção de quem creu, até o fim de tudo.

O que as pessoas precisam saber é que se elas crêem em Jesus, então, devem assumir que o mundo vai acabar; a natureza vai gemer até parir algo novo; as nações irão se odiar; os povos se ajuntarão apenas para a guerra; e a grande maioria amará muito mais a mentira que a verdade.

O que as pessoas precisam saber é que se elas crêem em Jesus, então, crêem também que Israel será Israel até que chegue o Dia de seu Pranto pelo Unigênito; e que guerras e revoluções acontecerão em toda parte; e que poder algum na Terra trará paz duradoura ao mundo até o fim.

O que as pessoas precisam saber é que se elas crêem em Jesus, então, elas também crêem que os vivos que crerem, quando soar a última trombeta, serão transformados, e, abduzidos por anjos, irão ao encontro do Senhor nos ares. Antes disso, porém, todos os que tiverem morrido no leito da fé na ressurreição, serão levantados da morte. Os mortos ressuscitarão primeiro. Depois os vivos serão transformados. Assim crêem os que crêem.

O que as pessoas precisam saber é que se elas crêem em Jesus, então, elas crêem também que as coisas são como Jesus nos disse que elas são, foram e serão.

Se assim é, por que, então, conseguimos não ser nada do que dizemos crer? Ou será que de fato não cremos em nada do que confessamos com os lábios?
Ora, se você não crê em mais nada disso, então, diga: “Eu não creio em mais nada disso. Para mim Jesus é o Máximo, é meu guru, é meu poder; é o poder que me ensinaram e que funcionou pra mim.”.
Certamente seria ainda mais agradável a Deus!
Nele, em fomos chamados para a OBEDIÊNCIA EM FÉ,
14/06/07 Lago Norte Brasília

Manuel de Melo


A Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo, nasceu do poder de Deus e na Unção do Espírito Santo, através do espírito empreendedor e evangelístico do saudoso pastor MANOEL DE MELO.
Em 1929, no lugarejo de Amoroso, município de Água Preta, aproximadamente 150 Km da capital de Pernambuco, uma numerosa família dedicava-se à agricultura, residindo em uma casa com espaçosas dependências, varandas e ao lado curral e estrebaria, defronte a um pasto verdejante. O pai era João de Mello Silva, brasileiro, descendente de brasileiros; casado com Doralina Soares da Silva, brasileira de descendência holandesa.
Em meio a esta família, a 20 de Agosto de 1929, nasceu uma criança a quem foi dado o nome de Manoel de Mello e Silva, comumente chamado pelo apelido de "Neco". Manoel de Mello teve em sua infância um desenvolvimento normal e próximo aos 4 anos de idade, "Seu João", católico nominal, pensou em batizá-lo, arrumando até o padrinho para o evento. Porém, sua mãe, cristã convicta, instruía o menino no caminho de Deus.
No dia marcado pelo seu pai para o encontro com seu "padrinho", ocorreu uma surpresa a todos que estavam na imensa sala da família Mello. Quando seu padrinho perguntou a Manoel se ele estava feliz por ser batizado, ganhar um terno novo ir a Igreja à cavalo e ver a missa e o Padre, este respondeu: "O senhor meu pai sabe que eu sou quente (crente), e se me levarem para batizar eu falo pro Padre que sou quente, quente, quente, quente!!!!!.... Junto com esta declaração enfática, do menino Manoel, vieram batidas firmes de pés no chão, e um dedo apontado para o rosto do padrinho, o que criou um clima intranqüilo para seu pai e o padrinho, mas de grande satisfação para sua mãe.
Manoel de Mello crescia e interessava-se pelas coisas de Deus. Aos 9 anos de idade foi batizado com o Espírito Santo, e já sabia de cor mais de uma centena de hinos, além de recitar vários Salmos e diversas passagens da Palavra de Deus. Depois dos 11 anos, pregava para auditórios de 100 pessoas, que eram sacudidas pelo poder de Deus que fluía de sua mensagem, o que veio a provocar certo ciúmes a pregadores mais idosos da igreja. Como pregador, suas mensagens voltavam-se de forma especial para o poder da fé e os milagres operados por Jesus e pelos Apóstolos.
Aos 14 anos de idade, Mello interessou-se em sua vida secular, pelo ofício da Construção Civil, havendo se especializado nesta área.
Aos 18 anos de idade, Manoel de Mello viajou para a cidade de São Paulo, onde de início já passou por algumas dificuldades. Porém, fez amizades lá, e vencendo as barreiras, agregou-se na Igreja Evangélica Assembléia de Deus, onde foi consagrado Diácono. De dia trabalhava como Mestre de Obras, e à noite, pregava nos templos daquela denominação.
Mas, Deus tinha planos para a vida daquele homem que ele sequer imaginava! Com o decorrer do tempo, o Diácono Manoel de Mello, foi sendo aquecido pelo Espírito Santo em sua fé. Com 22 anos, em 1951, casou-se com Ruth Lopes, e dessa união nasceram Boaz Alberto e Paulo Lutero.
Em 1952, Manoel de Mello foi surpreendido por uma enfermidade mortal (paralisia intestinal), que em menos de uma semana fez com que seus parentes e amigos o considerassem como morto. Mas ele foi ungido com óleo, conforme a ordenança bíblica de Tiago 5.14-15, e após a oração da fé, foi milagrosamente curado, tendo sua saúde restabelecida por Deus. Este acontecimento fortaleceu a sua fé, e o tornou convicto da operosidade dos dons espirituais, característica marcante que acompanhou todo o seu ministério, principalmente na área de cura divina e sinais e maravilhas.
Depois de ter sido curado da paralisia intestinal, Manoel viu-se impedido de continuar suas atividades seculares, e passou a dedicar-se exclusivamente à pregação do Evangelho e ao ministério. Muitos levantaram-se tentando impedi-lo de sua iniciativa, inclusive dentro da própria denominação que pertencia. Alguns por não concordarem com sua linha doutrinária de pensamento, baseada nos dons do Espírito Santo, e nos milagres operados por Jesus e os Apóstolos, e outros por ciúmes.
Hoje, vários pastores nos contam, segundo a tradição oral, que muitas vezes na igreja, durante campanhas de missionários e pregadores famosos, muitos dos quais estrangeiros; no momento da oração, o povo muitas vezes clamava: "Nós queremos a oração do Diácono Manoel de Mello!". E, quando ele orava, os milagres aconteciam de forma extraordinária. Manoel de Mello também passou a ser perseguido por muitos de fora, incrédulos do poder de Deus e motivados pelo inimigo.
A intensa perseguição o levou a realizar períodos de intensos jejuns e orações que entravam pelas madrugadas. Estudou a vida de famosos pregadores e analisou detalhadamente os grandes movimentos de reavivamento espiritual ocorridos no mundo. Foi ordenado ministro pela Corporação Evangélica Four Square, com sede nos Estados Unidos, e em 1955 teve uma visão de Deus que o próprio Manoel de Mello narra: "Em 1.955 tive uma visão espiritual na qual o Senhor Jesus me apareceu e me deu ordens para começar, no Brasil, um movimento de Reavivamento Espiritual, Evangelização e Cura Divina, e o Senhor Jesus mesmo deu-me o nome: "O BRASIL PARA CRISTO". Obedeci a ordem. Aleluia!
Comecei o movimento. Companheiros e companheiras do mesmo ideal do Evangelho uniram-se a mim na grande jornada. Naquela visão Jesus me revelou que todos que cooperassem comigo na Obra que iria fazer de maneira nenhuma perderiam seu galardão, então abrimos milhares de igrejas de norte a sul do Brasil..."
Sem dúvida alguma começava no Brasil o maior movimento de Evangelização e Reavivamento Espiritual de toda a América Latina, o movimento chamado de: "O BRASIL PARA CRISTO", uma das maiores expressões da Igreja Pentecostal no Brasil.
O Missionário Manoel de Mello firmou-se então como autêntico líder do Pentecostalismo no Brasil, chegando a reunir em suas campanhas até 200.000 pessoas em algumas reuniões, fato que lhe custou alto preço - Foi preso 27 vezes, acusado de curandeirismo pelas curas que aconteciam em seus cultos, por causa do seu ponto de vista não conformista e especialmente por seus pronunciamentos proféticos.
O Ministro Evangélico Manoel de Mello foi um líder popular de grande penetração entre as massas, promoveu grandes concentrações evangelísticas em todos os estados do Brasil, principalmente em São Paulo. Chegou até mesmo a lotar o Estádio do Pacaembu, numa gigantesca concentração. Em abril de 1.976, na Sexta-Feira da Paixão, reuniu cerca de 30.000 pessoas nas dependências do Grande Templo.
Porém, Manoel de Mello, não se deteve só no Brasil, mas viajou para todos os continentes realizando conferências em 133 países, em igrejas, universidades, simpósios e convenções. Pregou para reis, rainha da Inglaterra, duas vezes para o presidente dos Estados Unidos dentro de sua própria sala, primeiro ministro da Alemanha, entre outros. Foi entrevistado pela cadeia de televisão CBS americana, BBC londrina, além de vários outros veículos de comunicação internacionais, como a televisão sueca, a alemã, os jornais "New York Times" e o "Le Monde".
Aqui no Brasil, vários órgãos da imprensa deram cobertura às suas atividades evangelísticas. Por estas mesmas atividades recebeu o prêmio de religião como o pregador que mais se destacou no ano de 1.972, concedido pela Fundação Edward Browning e representado pelo troféu Browning. Em 1.978 recebeu o título de: "O Bandeirante do Brasil Presente", concedido pelo INEC (Instituto Nacional de Expansão Cultural). Em 07 de outubro de 1.981 foi entrevistado pela revista Veja, cujo assunto foi: " Pentecostais - O Milagre da Multiplicação" (Capa da Revista). Era um homem avançado para o seu tempo.
Manoel de Mello sempre foi um homem voltado para a elevação do espírito, para o bem-estar do homem e principalmente a salvação que o Senhor Jesus Cristo pode proporcionar a todos quantos se entregarem a Ele. Manoel de Mello e Silva, um nome que sempre ficará gravado nos anais da história e nos corações do povo evangélico do Brasil e até mesmo do mundo, um homem que fez muito pela causa de Cristo aqui na terra mas, no dia 05 de maio de 1.990 o Senhor o recolheu.
Que possamos ter em nossos corações e em nossas mentes, o desejo e a determinação que este grande servo do Senhor tinha ao gritar nas praças de São Paulo e de todo Brasil "VAMOS GANHAR O BRASIL PARA CRISTO".
MARANATA, Ora vem Senhor Jesus. Amém!

José Manuel da Conceição

"Padre Protestante"
Nascido em São Paulo em 1822, José Manuel da Costa Santos, que tomou o nome de José Manuel da Conceição, tornou-se padre em 1845, após brilhantes estudos realizados em Sorocaba, onde seu tio-avô era cura, e no seminário diocesano. As relações que teve bem cedo com estrangeiros protestantes, entretanto, o gosto pela leitura da Bíblia que estes lhe inspiraram, a tradução alemã de uma História Sagrada do Antigo e Novo Testamento publicada pela editora protestante do Rio, Laemmert, mas sem a autorização episcopal, valeram-lhe, em pouco tempo, a alcunha de "padre protestante" e a suspeita da autoridade diocesana. Esta mantinha-o nas funções de vigário encomendado, enviando-o durante quinze anos a uma dezena de paróquias, Limeira, Piracicaba, Monte-Mor, Taubaté, Ubatuba, Santa Bárbara e, finalmente, Brotas, para onde foi transferido em 1860. Os bispos protegiam, assim, seus fiéis, contra uma influência que, sendo exercida durante muito tempo, pensavam, tornar-se-ia nociva; mas, como se afirmou, "sem que o percebessem, traçavam o itinerário da Reforma na sua diocese".
Esta má vontade por parte da hierarquia mostrava ao Pe. Conceição a impossibilidade de realizar esta reforma da Igreja no plano local, ao qual se consagrava, procurando, em cada uma de suas paróquias, reavivar a vida espiritual, centralizando-a na leitura da Bíblia.
Conhece profundas crises vocacionais que ajuntaram ao seu cognome "padre protestante" o de "padre louco". Parece que Brotas, por algum tempo, restituiu-lhe a paz. Essa povoação recentemente fundada (datando de cerca de 1840) era povoada por pequenos fazendeiros, grande parte vinda do sul de Minas, os Gouvea, os Cerqueira Leite, os Garcia, os Lima. Pessoas ativas, decididas e progressistas, aprovaram sem dificuldade a construção de uma nova igreja e a retirada da velha imagem da padroeira do santuário Nossa Senhora das Dores.
Conceição pregou-lhes a leitura da Bíblia, e conta-se que um velho, havendo descido com enorme esforço da serra, para se informar sobre o que havia, respondeu: "Então vou aprender a ler para estudá-la", e o fez. Às noivas que procuravam confessar-se antes de seu casamento, Conceição respondia: "Eu e você precisamos nos confessar a Deus e não aos homens".
Este episódio nos mostra que, nesse mês de março de 1862, ele procurava apenas melhorar as condições da vida religiosa na sua paróquia. Passava por uma profunda crise espiritual, exatamente a da questão da salvação e do valor meritório das obras. Como Lutero, condenava as indulgências que proporcionavam uma falsa paz, acusando a Igreja pelo seu "sistema de comutação" que "implica e explica a negação da graça de Jesus". Não lhe sendo possível continuar no exercício do ministério, quis abandoná-lo, tendo sido, por sua vontade, dispensado apenas de suas funções propriamente sacerdotais, após o que foi viver como simples particular, em uma pequena casa de campo nos arredores de Rio Claro. Aí foi encontrá-lo o missionário Blackford, atraído pela fama do "padre protestante". Este acabou por ceder às suas exortações, batizando-se na Igreja Presbiteriana do Rio em 23 de outubro de 1864.
Sua decisão, entretanto, também não lhe proporcionou a paz interior. Nova crise manifestou-se nele, em virtude da advertência bíblica "Não se zomba de Deus", crise que provinha de sua consciência de que não era bastante haver abandonado os erros da Igreja romana, depois de havê-los divulgado por tanto tempo. Três vezes evitou seus amigos missionários, subtraindo-se às suas visitas, até que, finalmente, estas outras palavras da Bíblia "O sangue de Jesus Cristo purifica de todo pecado" trouxeram-lhe tranqüilidade ao coração. Escreveu então uma Profissão de Fé Evangélica onde narra suas lutas espirituais, num estilo convulsivo e ardente, uma das mais belas obras da mística protestante.
Brotas fôra a última paróquia onde o Pe. Conceição exercera o ministério católico. Possuía ali laços familiares desde que sua irmã mais moça, Tudica, se casara com um Cerqueira Leite. Muitos de seus paroquianos haviam conhecido suas lutas espirituais e alguns as haviam mesmo partilhado. Além disso, os missionários seus amigos haviam iniciado ali um trabalho de propaganda com grande resultado, e esse foi o ponto decisivo: dirigiu-se a Brotas em meados de outubro a fim de tomar parte na campanha de pregações que deveria realizar-se durante diversas semanas, havendo pregações de casa em casa. Eis uma descrição das duas últimas reuniões, feitas por Blackford, que nos mostra o modo como eram realizadas e como se criou o primeiro núcleo protestante verdadeiramente brasileiro: "Na segunda-feira 13 (de novembro) reunimo-nos em casa de Antônio Francisco de Gouvêa, no sítio, com o objetivo de organizar uma igreja. O Sr. Conceição pregou a mais de 30 presentes, após o que fizeram pública profissão de fé e receberam o sacramento do batismo as seguintes pessoas: Joaquim José de Gouvêa e sua mulher Lina Maria de Gouvêa, seu filho Francisco Joaquim de Gouvêa e sua filha Sabina Maria de Gouvêa; Antônio Francisco de Gouvêa, sua mulher Sabina Maria de Gouvêa e suas três filhas Belmira Maria de Gouvêa, Maria Vitória de Gouvêa e Maximina Maria de Gouvêa; Severino José de Gouvêa e sua mulher Maria Joaquina de Gouvêa. Com eles celebramos o amor de Nosso Senhor ao morrer, comendo e bebendo os símbolos do seu corpo partido e sangue derramado. Era a primeira vez que qualquer deles participava desse sacramento, ou o via. Foram horas de júbilo para o coração dos que participaram e de profunda impressão para os que presenciaram, ao menos para alguns.
"O Sr. Conceição dirigiu a oração final; julgo ter sido a mais jubilosa explosão de agradecimento que jamais ouvi. Deu graças pela vinda do Evangelho até eles, pela misericórdia que os tinha levado a ouvir e aceitar, e pelos privilégios daquela hora, etc. De envolta com as ações de graças e ferventes pedidos exortações e solicitações aos presentes para que aceitassem o livramento oferecido em Cristo. Na mesma ocasião foram batizadas as seguintes crianças: Antônio Francisco de Gouvêa, Maria Luiza, José Francisco e Sabina Maria de Gouvêa e Maria Luiza, José Venâncio, Domicília Maria, Inocência, Herculano José e Elias de Gouvêa, filhos de Severino José e Maria Joaquim de Gouvêa.
"A 14 de novembro, no culto em casa do Sr. Tenório foram batizados Joaquim, Antônio Joaquim, Lino José, Honório José e Cassiano, filhos de Joaquim José e Lina Maria de Gouvêa.
"Quarta-feira, 15 de novembro, deixamos Brotas".
Onze adultos membros professos e dezessete crianças batizadas, não pessoas isoladas, e sim uma grande família: os três irmãos Gouvêa com suas esposas e filhos (sete de Severino José, cinco de Antônio Francisco e cinco de Joaquim José). A seguir vieram os parentes de Conceição que, nas semanas seguintes, aderiram à Igreja; sua cunhada, um sobrinho, sua irmã mais moça Tudica. Esta atraiu seu marido, sua sogra D. Cândida Cerqueira Leite, a mais respeitada e influente fundadora do povoado, e todos os filhos desta.
Gradualmente a comunidade de Brotas desenvolveu-se de maneira extraordinária. Em 1867 possuía 61 membros professos, em 1871, 116 (e 123 crianças); em 1874, 140 membros. "Gente da vila e gente dos sítios: Buenos, Prados, Magalhães, Borges, Oliveiras, Morais, Cardosos e Cardosas, Barros, Coutinhos e Garcias. Gente de várias procedências e diversas famílias, espalhadas num raio de dez a quinze léguas por aqueles sertões. Negros e ex-escravos: em 21 de outubro desse mesmo ano de 1866, professavam e eram batizados João Claro Arruda e sua mulher Maria Antônia de Arruda; a mulher era índia; e João Claro ex-escravo e ex-sacristão de José Manoel da Conceição.
A igreja de Brotas foi, durante muito tempo uma das maiores igrejas protestantes do Brasil, ao lado da do Rio. É verdade que a chegada bem tardia de um pastor residente (vindo apenas em 1868) permitiu ao clero católico a restrição de sua atividade assoladora. O movimento protestante, que durante um momento parecera prestes a ganhar toda a população, deu origem apenas a uma comunidade minoritária: desde 1866 um Cerqueira Leite debatia-se sozinho, na Câmara Municipal, contra o projeto de interdição das reuniões protestantes. Limitada no seu lugar entretanto, a influência dos protestantes de Brotas propagou-se pelas regiões onde se havia originado e naquelas para onde se transferiram esses protestantes. Vimos que os três irmãos Gouvêa eram de Borda da Mata; possuíam um irmão ainda nesse lugar, Antônio Joaquim, que se converteu a convite dos outros, junto com seu genro Belisário Corrêa Leite; esta foi a origem da Igreja Presbiteriana de Borda da Mata – distante de Brotas mais de 200kms, em linha reta, incontestavelmente sua filha – fundada em 23 de maio de 1869 com o batismo de 15 adultos (dos quais seis Gouvêa, dois Leite e três de seus escravos) e vinte crianças. Tendo-se transferido de Brotas para Dois Córregos, um dos irmãos Gouvêa estabeleceu ali, em 25 de março de 1875, uma Igreja constituída de 19 membros adultos e 15 crianças.
Conceição, Pastor Itinerante
Conceição concedera, assim, os protestantismo brasileiro, seu mais forte grupo e seu melhor centro de irradiação. Brotas, entretanto, não havia sido sua única paróquia, e logo que uma Igreja se tivesse constituído punha-se ele a caminho com fito de visitar as outras localidades nas quais a desconfiança dos bispos de São Paulo o havia obrigado a peregrinar. Onde havia sido cura, para aí regressava pastor, pois recebera a consagração pastoral num presbitério realizado em São Paulo em meados de novembro desse ano de 1865.
Estas viagens, entretanto, não constituíam a tranqüila realização de um plano deliberado com os missionários americanos. Estes penetravam também pelo interior a dentro: das grandes cidades onde se haviam instalado partiam em expedições com destino a alguma localidade onde houvesse simpatizantes, e aí pregavam, faziam visitas, voltando depois às suas casas. Mas a grande campanha de evangelização que Conceição desenvolveu em uma parte considerável da província de São Paulo, durante três anos, foi de origem e caráter bem diferentes.
Teve início com uma de suas costumeiras crises de melancolia. Blackford, junto a quem Conceição procurava apoio, não o compreendia. "Ensinaram-lhe na teologia que quando alguém se converte está salvo para todo o sempre, sem possibilidade de se perder, e ele, agora, não é capaz de compreender a luta, a dúvida, a angústia desnorteante do amigo. Aquele paroxismo final da velha modéstia da alma, contraída na sacristia, mais lhe parece "aberração moral ou mental" que uma crise da grande alma de santo que existe em Conceição, e que luta para se afirmar". Blackford teve, pois, grande trabalho em persuadir seu amigo e subordinado de que lhe era necessário cuidar de si. Conceição pareceu concordar, mas, nota Blackford em seu diário particular, "desapareceu, sem deixar indicação alguma sobre seu destino, havendo escrito apenas um bilhete avisando-nos de que não o esperássemos em casa. No dia 3 de março comuniquei esses fatos ao Dr. Furtado, chefe de polícia em exercício, que prometeu escrever a todos os delegados da província pedindo notícias de Conceição".
Enquanto o protestantismo americano não conseguia compreender que sua própria mensagem tivera força bastante para lançar a angústia nessa alma que recebera, Conceição, - o "pastor louco" para os missionários, como fora outrora o "padre louco" para os católicos – empenhava-se em abrir, ao protestantismo, os caminhos dessa mesma província onde a polícia o procurava. No mesmo dia em que Blackford escrevia ao Chefe da Polícia, Conceição achava-se em Ibiuna, pregando o Evangelho e fora o sub-delegado dessa localidade que, impressionado pela sua mensagem, lhe dera abrigo, antes de haver recebido comunicações oficiais. Nessa viagem dirigiu-se em seguida a Sorocaba, onde havia passado parte de sua juventude, e foi tal o interesse despertado nesse lugar, que enviou a Blackford uma lista com os nomes de 90 pessoas que deveriam ser visitadas. O missionário atendeu ao chamado tendo verificado então o belo trabalho realizado por seu amigo. Este, entretanto havia regressado a Brotas, de onde tornou a voltar, pregando em Limeira, Campinas, Belém, Bragança e Atibaia. Chegando a São Paulo no dia 3 de junho, iniciou nova viagem no dia seguinte.
Visitou, dessa vez, o vale do Paraíba, que percorrera outrora como cura de Taubaté. Viram-no pregar e distribuir Evangelhos em São José dos Campos, Caçapava, na sua antiga paróquia de Taubaté, em Pindamonhangaba e Aparecida – onde se diz que discutiu com os padres – além de outras pequenas cidades pitorescas e ricas dessa região fronteira, Guaratinguetá, Queluz, Rezende, Barra Mansa, Piraí. Aí consentiu em embarcar para ir até o Rio, onde participou da consagração pastoral do missionário Chamberlain, mas a 13 de julho retomou em sentido inverso sua viagem pelo vale do Paraíba, chegando em São Paulo em princípios de outubro.
Após um mês de trabalho na capital inicia, no fim de outubro, a evangelização rumo ao Norte: Cotia, Ibiuna, Piedade, São Roque, Piracicaba, Porto Feliz, Itú, até sua querida igreja de Brotas, onde permaneceu algumas semanas percorrendo toda a região, para voltar, em seguida, por Itaquarí, Rio Claro, Limeira, Piracicaba, Capivarí, Campinas, Belém (Itatiba) Bragança, Atibaia, Santo Antônio da Cachoeira (Piracaia), Nazaré, Santa Isabel e São Paulo, onde vamos encontrá-lo a 16 de dezembro.
A 21 de janeiro seguinte (1867) reinicia a viagem do Vale do Paraíba: Jacareí, Taubaté, Pindamonhangaba, voltando por Caçapava, São José, Jacareí, Taubaté e São Paulo; foram dezoito dias particularmente esplêndidos, com grandes auditórios simpatizantes, nessa região predominantemente católica.
Permanecendo em São Paulo uma semana apenas, dirigiu-se, a 14 de fevereiro, ao sul de Minas, onde os protestantes de Brotas haviam iniciado já o trabalho de propaganda, entre seus parentes de Borda da Mata e Santa Ana do Sapucaí. Fazendo paradas em Santa Isabel, Nazaré, Santo Antônio da Cachoeira, Bragança, Amparo, Mogi Mirim, Ouro Fino, chegou finalmente à fazenda de Antônio Joaquim Gouvêa, a uma légua de Borda da Mata e depois a Santa Ana.
Em São Paulo, onde se achava de regresso a 2 de abril, esperava-o sua sentença de excomunhão. Escreveu então um Resposta que, na opinião de seu último biógrafo, "abre a série dos clássicos protestantes do Brasil". No mesmo dia, 3 de maio, em que acabava de escrevê-la e ensiná-la, partiu novamente em viagem pelos arredores de São Paulo; sua excomunhão não impediu que um cura lhe desse hospitalidade. A 20 de maio, em companhia de Blackford, dirigia-se ao Rio; consagrou o mês de junho à evangelização dos arredores da capital. Apresentou, em uma reunião do presbitério que se realizou então no Rio, um relatório pormenorizado, no qual seu entusiasmo se traduzia em verdadeiras estrofes de louvores: "Nós porém, que temos visto (com os nossos próprios olhos e ouvido, com os nossos próprios ouvidos) o poder da Palavra de Deus na conversão das almas, quer em sua letra quer em seu espírito;
"nós que temos visto as crianças irem, cantando e saltando, quebrar os ídolos de seus pais, e outras, pregando com a Bíblia nas mãos, a seus pais e vigários;
"nós sabemos, e com júbilo vos anunciamos que a evangelização em nosso país é a realidade mais benéfica em todos os resultados;
"e temos confiança, e ansiosamente desejamos vê-la progredir, concorrendo com quanto houver em nossas poucas forças para que mais e mais Jesus Cristo ganhe almas para sua glória".
"Nossas poucas forças". Conceição havia dito também "A continuar como nos últimos tempos, antevejo que pouco poderei prestar".
Acabava, realmente, de fazer cinco grandes viagens no decurso de um ano. Seus companheiros de jornada – missionários como Blackford, Chamberlain, Schneider, Simonton, e ainda jovens evangelistas brasileiros ou portugueses como Miguel Torres, Modesto Perestrelo de Barros, Antônio Pedro, José Rodrigues, Carvalhosa – revezavam-se cada vez. Ele, entretanto, estava sempre a caminho. Fora já obrigado a parar em uma de suas passagens por Brotas, incapaz de continuar sua viagem. Os membros do presbitério, que acabavam de ouvir seu relatório com interesse apaixonado, julgaram necessário fazê-lo repousar e o enviaram aos Estados Unidos, para que expusesse lá o trabalho realizado no Brasil. Embarcou no Rio no início de outubro de 1867.
Conceição separa-se dos missionários. O apostolado solitário.
Regressara em outubro de 1868, para a reunião do presbitério, que deveria ser realizada em São Paulo. Suas "férias" – constituídas de viagens de conferências, pregações nas Igrejas portuguesas de Jacksonville e Springfield, além de trabalhos literários, traduções de livros e revisão de uma versão portuguesa do Novo Testamento – não o haviam descansado absolutamente. Não abandonou, entretanto, suas viagens e, no fim de outubro, regressa do Rio a São Paulo, na companhia de Chamberlain, passando por Angra dos Reis, Paratí, Cunha e Lorena. Durante sua estadia nos Estados Unidos Blackford fundara (março de 1868) nesta última cidade, um pequeno núcleo protestante. A chegada de um antigo padre provocou aí desordens contra os adeptos da nova religião, sem que a polícia interviesse (13 de novembro). O Ministro da Justiça, José Martiniano de Alencar, avisado por Tavares Bastos, em uma carta severa dirigida ao Presidente da Província de São Paulo (26 de novembro), lembrou-lhe que os cultos protestantes eram autorizados, sob a condição... conhecemos o que se segue. Nota-se que o liberalismo dos autores de Iracema e das Cartas do Solitário tirava o maior partido possível, e de maneira quase paradoxal, do texto constitucional: a interpretação desse texto, por Silva Paranhos, dez anos antes, era, como dissemos, bem diferente, e isso nos mostra que a propaganda protestante havia, decididamente, ganho a partida junto às supremas autoridades do Império. Mas nesse momento os missionários mudaram de tática.
Conceição, ao retomar seu trabalho de evangelização, trabalho que costumava realizar sem plano ou orientação, havia perdido o apoio ente os missionários. Apercebeu-se disso no presbitério realizado em São Paulo em meados de outubro de 1869: até ali seus relatórios sempre tinham sido considerados curtos e nesse ano dizem o seguinte as Atas da Assembléia: "tendo sido muito extenso seu relatório, foi-lhe solicitado um resumo deste, que pudesse ser conservado nos arquivos".
Conceição fora útil aos missionários para abrir-lhes caminho, conseguir-lhes simpatizantes em toda província, lançar os fundamentos de Igrejas. Sendo pouco numerosos, entretanto, isolados uns dos outros, separados, muitas vezes, por dissentimentos, auxiliados por bem poucos colaboradores brasileiros (e os mais merecedores dentre eles haviam sido justamente então enviados ao Rio, a fim de fazer estudos de Teologia, encontrando-se entre eles Miguel Torres, Carvalhosa, Antônio Pedro Cerqueira Leite e Antônio Trajano) não podiam esses missionários dar conta de todo trabalho preparado por Conceição. O abandono dessas almas bem dispostas, entregues a si próprias (e às investidas do clero), acabou por tornar insensível à propaganda protestante, regiões que haviam despertado as maiores esperanças. Vimos que, mesmo em Brotas, tardara bastante a vinda de um pastor residente; no Vale do Paraíba, a impossibilidade de aproveitar o entusiasmo despertado por Conceição, suspendeu durante longo tempo, para satisfação do catolicismo, o desenvolvimento desse caminho de leste, no qual apenas a Igreja de Lorena vivendo na inatividade.
Muitas vezes os missionários pediram a Conceição que se fixasse, passando da evangelização à organização. Seu temperamento, entretanto, não o permitia; tivera, sem dúvida, nos Estados Unidos, experiências sobre organizações que facilmente se reduzem à administração, e bem cedo à burocracia. Continuou no seu ministério de apóstolo itinerante. Os missionários, que, enviando os jovens evangelistas brasileiros a estudar no Rio, haviam-no privado de seus companheiros habituais, tinham outras coisas a fazer que seguir esse nativo, tão independente quanto psicologicamente incompreensível. E assim, daí por diante, Conceição fazia suas viagens de pregação só, como havia feito no começo, quando o acreditavam louco (não se estava, aliás, voltando a essa idéia?).
Nessa divergência, entretanto, havia algo mais profundo que diferenças de temperamento ou técnica missionária. Conceição, cuja experiência religiosa muito se assemelhava à de Lutero, tinha, com relação a questões eclesiásticas, uma posição vizinha à do Reformador. Saído de uma igreja cujo principal defeito fora talvez deixar-se dominar pela organização, sentia bem pouco a necessidade de uma contra-Igreja organizada. Rompendo com Roma como Lutero, almejava, como Lutero, difundir a mensagem de salvação, sem se preocupar muito em destruir instituições para elevar outras. Seu último biógrafo transcreve, a esse respeito, uma página notável que é necessário reproduzir na íntegra: "Se queremos imprudentemente comunicar a homens sem preparatório algum, verdades que lhes são absolutamente incompreensíveis, empregadas desta sorte, falsa e prejudicialmente, não promoveremos assim a ilustração. Ilustrar é conduzir o homem pensador à meditação, para faze-lo valoroso, e capaz de poder por si mesmo descobrir a verdade, que lhe comunicamos.
"Tanto seria loucura, se os pais quisessem insinuar a seus filhos malcriados e fracos as verdades que sabem; quão fátuo querer imbuir adultos sem prévia e conveniente disposição de coisas e princípios, que lhes é impossível compreender".
"Tudo tem seu tempo".
"Há muitos homens incultos que são crianças a muitos respeitos, que devem ser doutrinados com grande circunspecção. Porque o exterminar certos prejuízos e costumes úteis, usos que muitas vezes substituem a verdade mesma, por nenhum modo é isso ilustração; porém leviandade desumana, crueldade inexcedível".
"Respeitem-se, portanto, os costumes e usos antigos do povo, que, em falta de mais profundos esclarecimentos são aptos para guiá-los e contê-los no bem".
"Ó meu Deus! Eu respeitarei a religião do ignorante – a fé daqueles que não tem tantas ocasiões de conhecer-vos, de venerar-vos de um modo mais digno. Jamais servirei à vaidade e presunção, de tal sorte que abale a fé piedosa dos outros com palavras e ações inconsideradas".
Estas palavras, como se disse, "embora dirigidas àqueles que pregam o materialismo em nome da ciência, evidentemente estabelecem um princípio geral de conduta bem definido. Princípio que se opunha ao método dos missionários estrangeiros, preocupados em destruir, como supersticiosos e idólatras, os hábitos religiosos encontrados entre o povo brasileiro – enquanto o primeiro dentre eles, Kidder, fora capaz de receber que esses hábitos denunciavam, e mesmo sustentavam, a existência de uma fé ignorante, mas profunda e sincera. Manifestava-se no Brasil, uma vez mais – depois de Feijó e Kidder – a visão de uma Reforma realmente brasileira, harmonizada com o temperamento e os hábitos do país, visão que, aliada ao seu apego à evangelização itinerante, iria fazer dele "um desconhecido" para seus companheiros e amigos missionários, "que desejavam ajudá-lo, mas não sabiam como".
Não tinha havido um rompimento entre ele e seus companheiros, mas sua missão não era o ministério organizado e a propaganda confessional, à qual se dedicavam então os missionários; nem mesmo se dedicava mais à evangelização itinerante, com auditórios relativamente grandes e representantes de todas as classes. O antigo cura, de boa família, possuidor de grande cultura, dedicava-se agora ao ministério de caridade e instrução religiosa entre os mais humildes. O insigne teólogo, que estava a par da literatura espiritual de toda a Europa, comprazia-se com os mais modestos conselhos de higiene como meios de obter a paz da alma. Comovente declínio de um homem que experimentara até o paroxismo, todas as lutas do espírito. Essa mesma humildade levava-o a viver essa "vida pobre" que se aproxima de São Francisco de Assis, e da qual o protestantismo brasileiro guardou admirativa memória, mesclada de alguma surpresa.
"Chegando a um sítio, diz o major Fausto de Souza, se resolvia a ter aí alguma permanência, ele procurava alguma choça ou telheiro que lhe servisse de abrigo, às vezes mesmo edificado por suas mãos e coberto de ramos; se, porém, sua demora era passageira, ele pedia hospedagem em qualquer casa, preferindo as de modesta aparência; e, antes de sair dela, procurava dar um sinal de seu reconhecimento, servindo de enfermeiro a algum doente, consolando tristezas ou mesmo prestando vários serviços humildes, como varrer, lavar, etc., etc.
"... Sua frugalidade era tal que com qualquer coisa se satisfazia durante o dia inteiro: uns ovos, leite, um pouco de farinha de milho ou de mandioca, ervas, café e açúcar, constituíam quase sempre o seu alimento. Desses gêneros, os que lhe davam agradecia com humildade; mas se assim não acontecia, também não os pedia, mas comprava-os em pequena quantidade, à proporção que deles necessitava, porque, conformando-se com a ordem dada por Jesus Cristo aos apóstolos, ele não possuía alforje para o caminho, nem duas túnicas, nem calçado, nem bordão, e mesmo o dinheiro que levava para o seu parco sustento limitava-se a alguns tostões".
Entretanto, de maneira alguma havia ele renunciado à vida intelectual: "Durante suas longas peregrinações ocupava as horas de ócio em escrever a lápis sermões, traduzir artigos religiosos, tomar apontamentos e notas curiosas sobre tudo o que via, observações topográficas e meteorológicas, vocábulos e termos especiais usados nos diversos povoados, procurando sua origem e raízes, quaisquer fatos que lhe pareciam interessantes da história natural, acompanhando-os às vezes de desenhos explicativos, ligeiros, mas que denunciavam rara aptidão. Quando se demorava por algum tempo em um sítio onde podia dispor de comodidade, passava a limpo seus sermões, hinos, notas e traduções, empregando em tudo muito método, clareza e belíssima letra; e todos esses papéis ele os conduzia consigo em viagem, dentro de um envoltório de pano que cuidadosamente cozia para não se dispersarem, até poder dar-lhes destino, enviando uns aos amigos, outros à redação da Imprensa Evangélica, de que não se esquecia.
Esta vida de pregador solitário durou quatro anos. Quatro anos durante os quais Conceição pregava aos arrieiros e viajantes que encontrava, aos pobres em cuja casa residia e dos quais cuidava, vítima muitas vezes de sevícias por parte de populações fanáticas, outras vezes considerando taumaturgo e obrigado a subtrair-se a uma espécie de culto.
Nos seus raros encontros com os missionários, para com os quais se mostrava sempre reconhecido e afetuoso, achava-se cada vez mais fraco. No fim de 1873, Blackford convenceu-o a repousar ao seu lado, nos arredores do Rio. Conceição tomou o trem, dessa vez, mas em uma baldeação, seu pobre vestuário e seus pés descalços atraíram a atenção da polícia que o prendeu. E quando as informações recebidas lhe abriram as portas da prisão, não possuía dinheiro para comprar uma nova passagem. Continuou à pé seu caminho, sob sol e a canícula, caindo prostrado, na noite de 24 de dezembro, sob a sacada de uma venda, em Irajá, não longe de Piraí. O chefe de uma enfermaria militar vizinha, major Fausto de Souza, deu-lhe um leito. Tendo agradecido aos que o haviam socorrido, pediu que o deixassem "só com seu Deus" e morreu, tendo adormecido, ao que parece, por volta do fim da missa da noite de Natal.
O protestantismo brasileiro teve, em Conceição – que abriu seus caminhos e nimbou seus primórdios de uma auréola mística – um santo. O bondoso homem que lhe dera um leito para morrer, e ao qual Conceição não pudera proporcionar ensinamento nenhum, Major Fausto de Souza, impressionou-se de tal modo nesse contacto de alguns instantes que estudou a vida desse estranho ente errante, publicando sua primeira biografia. Convertido ao protestantismo, tendo-se tornado uma sumidade médica e política – (principalmente como presidente da província de Santa Catarina) foi seu grande defensor.
Émile-G.Léonard
Rev. José Manoel da Conceição.
Extraído de A Imprensa Evangélica, Ano X. Rio de Janeiro, 03 de janeiro de 1874.
O Rev. Conceição nasceu na cidade de S. Paulo, no ano de 1822, e foi criado na mesma província.
Em 1844, foi ordenado padre da igreja romana, e pelo espaço de 18 anos exerceu o cargo de pároco em diversos lugares de sua província natal.
Ele possuía, em alto grau as características tão essenciais para o ministério sagrado, uma profunda e viva simpatia com seus semelhantes; e em toda parte onde andava, foi admirado e amado pelo povo. Ele foi com justiça considerado um dos maiores ornamentos da tribuna sagrada da diocese S. Paulo.
Seu espírito esclarecido e reto não podia porém conciliar os dogmas e a prática da Igreja Católica Apostólica Romana com a luz do evangelho, que seus estudos lhe traziam, e depois de uma renhida luta espiritual por alguns anos, decidiu-lhe em 1864 a tudo abandonar por amor da verdade. Em setembro desse ano participou ao bispo de S. Paulo, a sua retirada definitiva da igreja romana e a sua renúncia dos cargos que nela tinha exercido.
Em dezembro de 1865, foi ordenado ministro do Evangelho pelo Presbitério do Rio de Janeiro, reunido na cidade de São Paulo. Tornando-se o primeiro pastor Presbiteriano Nacional.
Poucos meses depois, empreendeu de motu-próprio, o que era seu trabalho predileto, andar de casa em casa e de lugar em lugar anunciando aos homens a boa nova de salvação de graça por nosso Senhor Jesus Cristo.
E até o fim de sua vida, umas vezes a cavalo outras vezes a pé, prosseguiu, como podia, nesta sua nobre missão.
Seus colegas e amigos, muitas vezes instavam com ele para aceitar algum outro emprego ou modo de trabalho mais compatível com as suas forças. Ele, porém, não quis anuir.
Muitas cidades, vilas e arraiais e milhares de pessoas nas províncias de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, foram testemunhas da fidelidade, zelo e fervor com que ele pregava Cristo crucificado como único Redentor.
Ele semeou a boa semente, da qual haverá no Brasil e no céu uma imensa colheita.
José Manoel da Conceição padecia, havia muitos anos de uma grave enfermidade, que as vezes, o incapacitava por dias e semanas inteiras para qualquer serviço.
Em 1867, na esperança de achar alívio desta sua enfermidade, fez uma viagem aos Estados Unidos, onde exerceu o seu ministério, pregando o Evangelho a duas colônias portuguesas no estado de Ilinois com grande aceitação.
Voltou de lá em 1868; e logo depois tornou a seu trabalho predileto de andar pregando pelo interior, no qual continuou, apesar de agravar-se a moléstia de que padecia.
Os rogos e ofertas de seus irmãos e amigos não puderam demovê-lo.
A 24 de dezembro de 1873, vindo, segundo parece, em direção à cidade do Rio de Janeiro, e chegando a um lugar perto de Cascadura na freguesia de Irajá, o Sr. Conceição não pode mais prosseguir.
Tendo recebido notícia vaga de sua doença, um amigo seu saiu logo no dia seguinte à procura dele. Chegando ao lugar indicado, soube que tinha sido transportado, por ordem do digno subdelegado da Irajá, para a enfermaria do Laboratório Químico de Campinho, onde, depois de receber todos os socorros possíveis tinha falecido às 4 horas da manhã desse dia, 25 de dezembro.
Rev. José Manoel da Conceição: Um Reformador "nativo"
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
"Ao explicar sua abjuração do Romanismo e sua adesão à Igreja Evangélica, José Manoel da Conceição fincou uma das permanentes da Reforma Evangélica da Religião no Brasil." (Boanerges Ribeiro, José Manoel da Conceição e a Reforma Evangélica, São Paulo, Livraria O Semeador, 1995, p.21).
Conceição (1822-1873) deixou a batina, saiu da igreja romana; já não pôde compactuar com os equívocos explícitos e implícitos daquela seita. As pressões para que Conceição reconsiderasse a sua posição foram intensas. Blackford e Carvalhosa resumem: "A retirada de pregador tão eminente e conceituado do seio da igreja romana não podia deixar de ser vivamente sentida pelos dignatários e mais eclesiásticos desta comunhão..." . (Atas do Presbitério do Rio de Janeiro, Sessão de 06/08/1875, p.150-151).
Em 23 de abril de 1867 é publicado no Correio Paulistano uma Circular que foi enviada às paróquias, acompanhada da sentença condenatória de excomunhão que fora decretada em 19 de fevereiro de 1867. Na sua Resposta, Conceição transcreve ambos documentos. Conceição elabora então a sua defesa, fazendo um esboço autobiográfico e, mostrando a contradição existente entre o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e o ensino e a prática do romanismo.
Boanerges Ribeiro comentando a Resposta de Conceição, resume: "É sintético, claro, elegante, vigoroso, bíblico. Atinge o romanismo no coração, a missa, que enseja o sacerdócio, o qual detém os sacramentos pelos quais manipula os benefícios da expiação feita no Calvário e conserva cativos os católicos romanos." (Boanerges Ribeiro, José Manoel da Conceição e a Reforma Evangélica, p.68).
O próprio Conceição finca as estacas: "Os pontos fundamentais desta exposição do plano da nossa redenção são três:
1º Pela morte da cruz Jesus Cristo pagou a dívida dos que se salvam, e por conseguinte estes não Têm de fazer expiação por si mesmos, nem o sacrifício de Cristo se repete.
2º A condição de alguém ter o proveito desse pagamento é de sua parte. A salvação é um dom concedido de graça aos que crêem no Filho de Deus.
3º O dom do Espírito Santo acompanha a remissão dos pecados; ele é o autor na nova vida interior em que consiste a essência do Cristianismo. Ele é o santificador; e os sacramentos, a oração, a leitura e meditação das palavras de Deus são meios cuja utilidade da sua colaboração." (José Manoel da Conceição, Sentença de Excomunhão e Sua Resposta, Rio de Janeiro, Typographia Perseverança, 1867, p.15-16).
Ele argumenta e prova, que a seita romana alterou fundamentalmente alguns pontos. Em sua exposição, Conceição revela o quanto ele tinha uma visão Reformada das Escrituras. Os pontos mencionados são estes: "1º Ela contesta e nega suficiência da expiação feita sobre a cruz. (...) 2º O segundo ponto alterado radicalmente, versa sobre as condições indispensáveis a fim de que os homens tenham o proveito do pagamento feito por Cristo. (...) 3º O terceiro ponto fundamental, que no ensino da Igreja Romana está radicalmente alterado é a doutrina do Espírito Santo." (José Manoel da Conceição, Sentença de Excomunhão e Sua Resposta, P. 16-23).
Conceição está convencido de que a Reforma veio de Deus, Aquele que soberanamente usou os missionários americanos (José Manoel da Conceição, Sentença de Excomunhão e Sua Resposta, p. 28). Segundo ele: "Não há reforma possível que não comece por reafirmar: 1º que Cristo foi crucificado uma só vez no Calvário é a única e suficiente expiação pelo pecado, e já não há mais oferenda pelo pecador; 2º que os méritos de Cristo estão ao alcance de toda a alma contrita e crente; 3º que a essência de uma vida cristã está na reabilitação do homem interior, e não há força capaz de efetuar tal transformação exceto o Espírito de Deus, com quem estamos em contato imediato. Pedindo, receberemos; buscando, acharemos; batendo, abrir-se-nos-á." (José Manoel da Conceição, Sentença de Excomunhão e Sua Resposta, p. 26).
Talvez, a ousadia de Conceição tornara-se mais grave para o clero pela sua própria estatura como intelectual, pregador e pastor de seu rebanho: "Em toda parte onde paroquiou ou pregou, era benquisto do povo e com justiça considerado um dos maiores ornamentos da tribuna sagrada da diocese de São Paulo", diriam mais tarde os Revs. Blackford e Carvalhosa. (Atas do Presbitério do Rio de Janeiro, Sessão de 06/08/1875, p. 149).
O Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição adotou este nome em homenagem ao nosso pastor "nativo" e, como fonte de estímulo para seus alunos e professores. O objetivo do Seminário é: preparar pastores com um quadro de referência Bíblico-Reformado, que exerçam seu ministério pastoral com fidelidade à Palavra, competência e abnegação, buscando em todas as coisas a Glória de Deus.

Pr. JOHN HARPER

O ÚLTIMO HERÓI DO TITANIC
Enquanto as águas escuras e geladas do Atlântico enchiam lentamente o convés do Titanic, John Harper gritava: "Deixem as mulheres, crianças e descrentes subirem nos barcos salva-vidas." Harper tirou seu salva-vidas - a última esperança de sobrevivência - e o entregou a outro homem. Depois que o navio desapareceu sob a água escura, deixando Harper se debatendo nas águas geladas, ouviram-no incentivando os que estavam à sua volta a confiar em Jesus Cristo.
Era a noite de 14 de abril de 1912. uma noite de heróis, e John Harper foi um deles. Apesar das águas que o tragavam serem extremamente frias e do mar à sua volta estar escuro, John Harper deixou este mundo numa resplandecente glória.
Os atos de coragem de Harper foram espontâneos. Ele não tinha motivo para imaginar que o Titanic afundaria, nem tempo para escrever um roteiro. Uma revista comercial, The Shipbuilder, descreveu o Titanic como "praticamente insubmergível". No dia 31 de maio de 1911, um empregado da Companhia de Construção Naval White Star disse: "Nem mesmo o próprio Deus pode afundar esse navio". O Titanic representava toda a segurança, elegância e confiança da era vitoriana-edwardiana. A Associated Press era entusiasta do navio, declarando: "Tudo que a riqueza e a habilidade modernas podiam produzir estava incorporado no Titanic, o navio mais longo já construído, com mais de 4 quadras de comprimento.., com acomodações para uma tripulação de 860 pessoas e capacidade para 3.500 passageiros, ele foi construído com o mesmo cuidado dedicado aos melhores cronômetros". A ostentação e o tamanho recorde do Titanic impressionaram a era dourada da construção naval. Seus motores de 50.000 HP que produziam a velocidade de 24 nós por hora eram protegidos por dezesseis compartimentos estanques. Cada um era protegido por estruturas de aço. Na época do seu lançamento, o Titanic era o maior objeto móvel manufaturado do mundo. Depois de fazer as duas primeiras paradas para passageiros e correio em Cherbourg e Queenstown, Irlanda, os passageiros se sentiram ainda mais seguros. Harper escreveu numa carta para seu amigo Charles Livingstone antes de atracar em Queenstown, dizendo:"Até agora a viagem é tudo que se pode desejar."
Às 11:40 da noite de 14 de abril de 1912, um iceberg rasgou o lado estibordo do navio, jogando gelo por todo o convés e arrebentando seis compartimentos estanques. O mar se infiltrou. A maioria dos passageiros não acreditava que o Titanic afundaria até que a tripulação começou a lançar foguetes de sinalização para o alto. Charles Pellegrino disse: "A água brilhou por todos os lados. Barcos salva-vidas podiam ser vistos nela... Naquele enorme facho de luz artificial, as mentes também foram iluminadas. Todos entenderam a mensagem dos foguetes por si próprios". Depois dos foguetes, ninguém precisava ser convencido a entrar nos barcos salva-vidas. De repente, quando a água alcançou a metade da ponte de comando, um estrondo que parecia um milhão de pratos quebrando, cortou a noite. Enquanto a popa do Titanic subia alto no céu para se preparar para seu mergulho ao fundo do mar, um barulho terrível como uma explosão abalou o ar da noite. Passageiros davam-se as mãos e se jogavam na água. Às 2:20 da manhã o Titanic começou sua descida lenta para o fundo do mar, deixando uma nuvem emergente de fumaça e vapor acima do seu túmulo. Nas águas geladas do Atlântico Norte, na calada da noite, o navio mais famoso do mundo terminou sua primeira e última viagem, mas alcançou uma mística náutica que só perde para a da arca de Noé. Tudo aconteceu tão rápido, que Harper só pôde reagir. Sua reação deixou um exemplo histórico de coragem e de fé. "Os heróis da humanidade", disse A. P Stanley, "são como as montanhas, como os planaltos do mundo moral". John Harper foi um desses heróis.
A Parte Mais Difícil do Seu Heroismo
Nunca é fácil assumir tais ações heróicas, e para John Harper foi excepcionalmente difícil. Sua filha pequena, Nana, estava viajando com ele. Quatro anos antes, a mãe dela adoeceu e morreu. Agora, Harper sabia, Nana ficaria órfã aos seis anos de idade.
Quando o alarme indicou o fim do Titanic, Harper imediatamente entregou Nana a um capitão do convés com ordens para colocá-la num barco salva-vidas. Então ele saiu para socorrer os outros. Nana foi resgatada e mandada de volta à Escócia, onde cresceu, casou-se com um pastor, e dedicou toda a sua vida ao Senhor a quem seu pai tinha servido.
Certa vez, depois de Harper escapar por pouco de se afogar aos 26 anos, ele disse: "O medo da morte não me preocupou em momento algum. Eu acreditava que a morte súbita seria glória súbita, mas havia uma menininha sem mãe em Glasgow". Agora, essa menininha ficaria sem mãe e sem pai. Com certeza essa foi a parte mais difícil para Harper.
O Herói em Contraste
O heroismo altruísta desse escocês é acentuado pela conduta contrastante de muitos colegas passageiros nessa viagem mortal. Enquanto Harper entregava seu colete salva-vidas, um banqueiro americano conseguiu colocar um cachorro de estimação num barco salva-vidas, deixando 1.522 pessoas sem ajuda. Não havia um espírito de "afundar com o navio". Dos 712 salvos, 189 eram, inclusive, homens da tripulação. O coronel John Jacob Astor tentou escapar com sua mulher num barco salva-vidas e foi detido pelo segundo-oficial Charles Lightoller. Astor era o homem mais rico do mundo, mas isso foi insuficiente para forçar a sua entrada num simples barquinho salva-vidas. Daniel Buckley se disfarçou de mulher na tentativa de conseguir um lugar no barco. Os passageiros da primeira classe, no primeiro barco salva-vidas a ser baixado, se recusaram a voltar e recolher pessoas que estavam se afogando, apesar de haver espaço para muitos outros serem salvos. A Sra. Rosa Abbott, a única mulher a afundar com o navio e sobreviver, disse que um homem tentou subir nas suas costas forçando-a para baixo da água e quase afogando-a.
O Sr. Bruce Ismay, um dos donos do Titanic, diretor administrativo da Companhia White Star e o responsável por não haver barcos salva-vidas [suficientes] a bordo, tornou-se o marinheiro mais infame desde o Capitão Bligh. Ele subiu num barco salva-vidas enquanto centenas de mulheres permaneceram no navio condenado. O Capitão Smith ordenou a seus homens: "Façam o melhor que puderem para as mulheres e crianças, e cada um cuide de si". Ao mesmo tempo, John Harper mandava os homens fazerem o que podiam para as mulheres e crianças e cuidarem dos outros.
Uma Ambição Inabalável
Quando o monstruoso iceberg partiu as ambições dos outros em pedaços, Harper demonstrou sua ambição inabalável que nem a morte podia afetar. Ele declarou Jesus Cristo como a esperança do homem até o fim, ao contrário de outros que foram forçados a encarar a insensatez de suas ambições. Um certo Sr. Hoffman raptou seus filhos, Lolo e Momon, que ficaram conhecidos como as ‘‘crianças abandonadas do Titanic". Seu único desejo fora tirar suas crianças de perto da mãe. Mas, diante da morte, ele as colocou num barco salva-vidas, certificando-se de que elas voltariam para a mãe delas em Nice, França. John Phillips, um tripulante presunçoso, mandou o navio The Ca/ifornian "calar a boca" depois que este enviou pelo rádio o sexto aviso de icebergs no trajeto do Titanic. Ao encarar a morte, sua presunção desapareceu e ele clamou: "Deus me perdoe... Deus me perdoe". O pai de Michel e Edrnond Navratil levou seus dois meninos a bordo do Titanic numa viagem sem volta para a América a fim de escapar para sempre da esposa, que ele tinha pego tendo um caso com um oficial de cavalaria italiano. Abandonando sua ambição, Navratil colocou seus meninos num barco salva-vidas. Suas últimas palavras foram: "Digam à sua mãe que serei sempre dela".
O projetista do Titanic passou os momentos finais da sua vida no salão de fumar, observando um painel na parede que dizia: "O Novo Mundo Por Vir". Seu colete salva-vidas foi deixado de lado, demonstrando o fim do que fora um belo sonho por parte dele, dos donos do navio e do público.
A Sra. Isador Straus, cujo marido era dono da Loja de Departamentos Macy’s, não entrou num barco salva-vidas. Ela disse ao seu marido: "Onde você for, eu vou"; ajudou sua criada a entrar no barco número oito e colocou seu casaco de pele nos seus ombros, dizendo-lhe: "Mantenha-se aquecida. Eu não vou precisar dele".
Benjamin Guggenheim e seu criado Victo Giglio apareceram no convés em trajes de gala como dois comediantes orgulhosos, dizendo: "Nos vestimos com o melhor e estamos preparados para afundar como cavalheiros".
Jogadores de cartas trapaceiros, que viajavam com identidades falsas e tinham roubado $30.000 dos passageiros, pararam com suas trapaças. O instrutor T. W McCawley, que estava ensinando pessoas a montar em cavalos e camelos mecânicos, interrompeu suas aulas. O fascínio das camas luxuosas, lareiras, banhos turcos com câmaras refrigeradas douradas e da primeira piscina construída num transatlântico terminou. Passageiros no salão da primeira classe cessaram as suas festas e desfilaram no convés com coletes salva-vidas sobre os trajes de gala. As reuniões de negócios pararam. O falatório das socialites cessou. Mas, com o seu último suspiro, John Harper, sem desanimar, continuou o trabalho da sua vida: convencer homens a "crer no Senhor Jesus Cristo".
Harper Conhecia Bem os Terrores do Afogamento
A coragem de Harper não vinha da ignorância. Provavelmente ninguém no Titanic conhecia tão bem os terrores do afogamento como John Harper. Aos dois anos de idade ele caiu num poço e foi ressuscitado a tempo por sua mãe. Aos vinte e seis anos, Harper foi levado a alto mar por um correnteza e sobreviveu por pouco. Aos trinta e dois anos ele encarou a morte num navio com vazamento no Mediterrâneo. Talvez essa fosse a maneira de Deus testar esse servo para a sua missão de último aviso no Titanic.
Harper já sabia o que centenas de pessoas descobriram naquela noite trágica - afogamento é uma morte terrível. Will Murdoch, o primeiro-oficial do Titanic, foi incapaz de enfrentar uma morte lenta na água e se matou com um tiro quando a ponte de comando afundou. Muitos dos 1.522 homens, mulheres e crianças abandonados a bordo gritaram até ficar num silêncio terrível. Em contraste, um John Harper confiante encarou a morte com segurança absoluta de que Jesus derrotou a morte e deu-lhe a dádiva da vida eterna. Essa segurança ultrapassou os terrores do afogamento.
A Paixão de Toda a Sua Vida
O heroismo de Harper não foi apenas um momento glorioso de uma vida sem atos heróicos. Ele amou, chorou, orou e trabalhou pelos outros durante toda a sua vida. Harper recuperou alcoólatras, jogadores, e brigões. Como pastor, às vezes, passava a noite inteira na sua igreja orando pelas suas centenas de membros individualmente. Harper trabalhava dia e noite, nos lares e nas ruas, indicando uma vida melhor para os desamparados. Ele trabalhava sem cessar entre os pobres, procurando ajudá-los.
A labuta fatigante de Harper era realizada apesar de sua má saúde. No verão de 1905, a enfermidade o incapacitou por seis meses, acabou com sua saúde e roubou sua bela e ressonante voz. Seu corpo nunca mais foi o mesmo, restando apenas um esqueleto do homem que fora. A pele pálida, o corpo frágil e as enfermidades constantes de Harper eram as marcas de alguém que se recusava a parar para descansar. Porém, apesar da má saúde e do corpo cansado, Harper era sagaz e alegre. Esse servo dedicado era conhecido por ser "glorificado na sua fraqueza". Na noite anterior ao naufrágio do Titanic, enquanto os outros jogavam e descansavam, John Harper foi visto no convés do navio tentando com todo zelo levar um rapaz a crer em Cristo.
Harper Teve uma Oportunidade de Escapar do Titanic
Os atos heróicos de John Harper no Titanic assumem uma dimensão maior quando se considera sua oportunidade de ter evitado o desventurado navio. A principio estava marcado que Harper iria no navio Lusitania para pregar na Igreja Memorial Moody em Chicago. Ao invés disso, ele se levantou e informou aos homens da Missão Seaman’s Center em Glasgow que os planos foram mudados e ele partiria no Titanic para a igreja Memorial Moody de Chicago. Em 1911, ele havia tido as melhores conferências desde os dias do grande D. L. Moody, e a igreja o convidou novamente para três meses de reuniões.
O Sr. Robert English levantou-se numa reunião no Seaman’s Center e suplicou que Harper não viajasse para Chicago. English disse a Harper que estava orando e teve um pressentimento de que aconteceria um desastre se ele fizesse essa viagem. Ele se ofereceu para pagar a passagem se Harper adiasse a sua viagem. Vários outros testemunharam o fato de que English insistiu com Harper, inclusive Willie Burns, que estava presente na reunião em Glasgow, e as duas netas de English, Mary Whitelaw e Georgina Smith, ambas membros da Igreja Memorial Harper.
As palavras de English foram muito semelhantes às palavras ditas ao apóstolo Paulo por um profeta chamado Ágabo 1.900 anos antes. Ágabo atou suas mãos e seus pés, dizendo: "Assim os judeus, em Jerusalém, farão ao dono deste cinto e o entregarão nas mãos dos gentios". A recusa de Harper de voltar atrás foi muito parecida com a reação de Paulo: "Que fazeis chorando e quebrantando-me o coração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus"(Atos 21.10-13). Ambos, Paulo e Harper, tinham um senso de propósito divino com relação às suas viagens, e ambos estavam dispostos a morrer para realizar esse propósito.
As advertências proféticas dadas a esses dois homens de Deus indicam que o Senhor aprovou seu sacrifício. A advertência de Ágabo deu um senso de propósito divino a Paulo quando ele viajou a Jerusalém onde pregaria o Evangelho, seria preso e condenado à morte. A advertência do Sr. English deu a Harper o mesmo senso de propósito divino quando ele se tornou a testemunha final num navio da morte.
No Final só Havia Duas Classes de Passageiros
Depois que o Titanic afundou, o escritório da White Star em Liverpool, Inglaterra, colocou um grande painel de cada lado da entrada principal. Em um deles escreveram com letras grandes: "Identificados como Salvos", e no outro: "Identificados como Desaparecidos". Quando a viagem do Titanic começou havia três classes de passageiros. Mas, quando ela terminou o número foi reduzido a duas — os que foram "salvos" pelos barcos salva-vidas e os que ficaram "perdidos" nas águas profundas.
Parentes e amigos dos passageiros do navio esperavam do lado de fora do escritório da White Star. Quando notícias sobre um passageiro chegavam, seu nome era escrito num pedaço de papelão. Então um empregado levava o nome até o portão. De frente para a multidão ele levantava o papelão; a multidão ficava num silêncio mortal. Todos observavam ansiosamente para ver em qual dos painéis o nome seria colocado.
John Harper mergulhou na morte com desprendimento total, sabendo que estaria entre os passageiros perdidos. Mas ele tinha certeza absoluta de que seu nome estaria na lista dos "salvos" diante do trono de Deus. Lorde Mercer expressou assim a atitude de Harper com relação à morte: "Numa única noite, entre o anoitecer e o amanhecer, durante algumas poucas horas de inconsciência de muitos que dormiam tranqüilamente, partiram desta terra centenas de vidas, algumas ricas em promessas e futuros aparentemente felizes, levando com elas todas as esperanças de outras pessoas. Mas a constância e a coragem cristãs, a renúncia absoluta e o heroísrno inabalável com que tantos encararam seu fim, nos ajudam a perceber que a morte não é o fim de todas as coisas e que esta vida é apenas a entrada para a vida verdadeira, que ela é apenas o portal da eternidade".
O Último Convertido de John Harper
Duas horas e quarenta minutos depois do Titanic colidir com o iceberg, ele afundou nas águas geladas. Centenas se ajuntaram em barcos e botes salva-vidas, e outros se agarraram a pedaços de madeira esperando sobreviver até que chegasse socorro. Durante cinqüenta minutos horríveis os gritos de socorro encheram a noite. Eva Hart disse: "O som das pessoas se afogando é algo que não posso descrever para você. E ninguém mais pode. É um som horrível. E há um silêncio terrível que o segue". O sobrevivente coronel Archibald Gracie chamou isso de "a cena mais lastimável e horrível de todas. Os gritos comoventes dos que estavam à nossa volta ainda soam nos meus ouvidos, e eu me lembrarei deles para o resto da minha vida".
Durante aqueles 50 minutos, um homem agarrado a uma tábua chegou perto de John Harper. Harper, que estava se debatendo na água, gritou: "Você é salvo?" A resposta foi: "Não". Harper gritou as palavras da Biblia:
"Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo". Antes de responder, o homem sumiu na escuridão.
Mais tarde, a correnteza os aproximou novamente. Mais uma vez Harper, que estava morrendo, gritou a pergunta: "Você é salvo?" Mais uma vez ele recebeu a resposta: "Não". Harper repetiu as palavras de Atos 16.31: "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo".
Harper, que estava se afogando, soltou, então, as mãos do objeto em que se segurava na água gelada e desceu para seu túmulo no oceano. O homem que ele tentou evangelizar confiou em Jesus Cristo. Mais tarde ele foi socorrido pelos barcos salva-vidas do navio S.S. Carpathia. Em Hamilton, Ontario, este sobrevivente testemunhou que foi o "último convertido" de John Harper.
O último convertido de Harper foi alcançado pelas últimas palavras de Harper: "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo".
Houve muitos heróis no Titanic, mas ajudando os outros enquanto se afogava, John Harper foi o último.
A Formação de um HeróiJohn Climie
Faz cerca de vinte anos, talvez um pouco mais, que conhecemos o Sr. Harper pela primeira vez. Nossa lembrança mais antiga dele era dos seus trabalhos no Evangelho em Bridge-of-Weir. Na época ele só parecia um rapaz crescido. Mas naquele tempo, como durante toda a sua carreira pública, a chama do Senhor ardia intensamente no seu coração.
A Conversão de John Harper
Ele nasceu em Houston, Renfrewshire, no dia 29 de maio de 1872, e foi no último domingo de março de 1886, quando tinha treze anos e dez meses de idade, que aceitou Jesus. Ele nunca foi um rapaz de confusão. Sua juventude desde a pré-adolescência foi moldada e protegida por sua fé no Senhor Jesus Cristo. O amor de Deus foi derramado no seu coração, e permeou sua vida completamente, formando seus pensamentos, induzindo à ação no momento certo, e preservando-o do mal que está neste mundo. Foi através de João 3.16: "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna", que o caminho da salvação ficou claro no seu coração e na sua mente. Esse tem sido o meio de iluminar multidões. Foi o que o iluminou, e o libertou do medo. "O perfeito amor lança fora o medo".
Ele recebeu a verdade por amá-la, e a verdade o libertou. Nas palavras esclarecedoras daquele texto, ele viu Jesus como a dádiva de Deus oferecida ao mundo inteiro, e, portanto, para ele corno habitante deste mundo. Ele recebeu essa dádiva com ações de graça, e uma nova vida começou.
Aqueles que dirigiam o culto em que ele aceitou o Salvador foram abençoados com muitas conversões, mas convertidos como John Harper são raros. As vezes há grande júbilo e muitos aleluias quando um pecador notório se converte, mas, infelizmente, muitas vezes a alegria dura pouco. Algumas pessoas por quem houve muito regozijo, mais tarde provaram ser pouco confiáveis.
Não se sabe se houve alegria especial quando o menino do interior aceitou Jesus naquela noite, mas depois que recebeu a Palavra, ele a guardou num coração sincero, e mais adiante deu frutos com paciência. A palavra de João 15.16 poderia se referir a ele: "eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça".
Não é necessário que os homens tenham se afundado no pecado para terem utilidade especial para Cristo depois que a graça redentora de Deus os tenha alcançado. No exercício do seu ministério público, o Sr. Harper jamais se afastou de Deus caindo profundamente em pecado. Contudo, ele foi o instrumento de Deus para levar ao Salvador muitos que estavam totalmente extraviados. Desde o começo ele foi claramente, pela vontade de Deus, "um vaso para honra, santificado, e adequado para o uso do Mestre".
E para o louvor do Senhor que Deus pode e consegue mudar as vidas de homens degradados e infames, dando-lhes um lugar de honra e distinção na Sua obra. Mas as ações malignas deles antes da conversão, às vezes, são uma armadilha para eles depois da conversão, ao invés de um auxílio no serviço para Cristo. Uma vida pura antes da conversão é um recurso valioso.
A Herança de Pais Tementes a Deus
John Harper nasceu e foi criado num lar cristão, como será relatado mais tarde neste livro. Seus pais. pobres neste mundo, eram herdeiros do Reino que Deus prometeu aos que O amam. Quanto mais lares cristãos, melhor, não só para a igreja, mas para a nação também. Ser criado no cuidado e conselho do Senhor, num ambiente de oração e de reverência à Palavra de Deus, é ser selado na juventude com marcas que são de grande valor, apesar de ocasionalmente os resultados esperados demorarem a aparecer.
Ser criado no temor de Deus é uma herança de valor inestimável. Apesar de ter sido num domingo à noite em março de 1886 que o menino de quase quatorze anos aceitou a Cristo, havia todas as marcas dos anos anteriores guardadas na sua mente jovem. Não foi em vão que ele ouviu durante esses anos marcantes as orações e súplicas de seu pai e a exposição da Palavra de Deus naquele lar simples. A lenha foi colocada na lareira do seu coração, e eis que naquela noite de domingo uma fagulha de amor divino caiu sobre ela, e a chama se acendeu.
Uma Experiência Marcante na Vida de Harper
Durante os quatro anos que se seguiram não houve nada de especial sobre ele, pelo menos nada que previsse a grande utilidade que marcaria sua vida futura. Ele ia freqüentemente às reuniões bíblicas que eram realizadas com entusiasmo por alguns jovens da vila, com a ajuda de pastores de outros lugares. Ele ficou livre de amizades comprometedoras, e firmou-se na fé moderadamente e sem ostentação.
Mas depois de quatro anos e quatro meses, quando tinha acabado de fazer dezoito anos de idade, ele passou por uma experiência maior. O crescimento é uma lei do Reino de Deus. As vezes é bem devagar e quase imperceptível. Outras vezes é espantosamente rápido. Alguns homens crescem mais numa hora de temor perante as coisas de Deus do que outros que levam anos para crescerem. Seja qual for a nova experiência, é sem dúvida o Espírito de Deus agindo para o crescimento em graça, levando a alma a um espaço mais extenso, ampliando o horizonte, clareando a visão, implantando ideais mais nobres.
Uma Visão de Esperança
Foi no ano de 1890 que John Harper teve a conscientização que o selou para o ministério público. Ele estava em casa sozinho num sábado à tarde no mês de junho. Ao redor da sua casa na vila, a natureza estava exuberante. Junho é o rei dos meses de verão na Escócia. As flores desabrochavam. Os pássaros cantavam. O sol brilhava. Mas enquanto outros jovens deviam estar passeando nos campos verdes ou pelos riachos, dentro daquela casa na vila o Espírito de Deus levava um jovem a pastos verdejantes e águas de descanso.
Uma clareza arrebatadora foi dada a ele, quase devastadora na sua intensidade, na qual ele viu e sentiu como nunca havia sentido antes o propósito de Deus na Cruz de Cristo. No amor de Cristo pelos homens como visto no Calvário ele admirou, de forma mais completa, uma porta de esperança aberta para um mundo pecador, e juntamente com essa revelação nova ele sentiu que Deus o chamava, e entregava-lhe uma parte no ministério de reconciliação. No dia seguinte seus lábios estavam abertos. Assumindo sua posição na rua da sua cidade natal, ele começou a compartilhar um apelo fervoroso para que os homens se reconciliassem com Deus.
Um Pastor Sem Curso Teológico
Toda instrução que ele recebeu foi obtida no colégio na sua cidade natal, e como muitos outros rapazes ele não se entusiasmava com a escola. Ele estava ansioso por trabalhar, pensando como outros da sua idade que o trabalho é sinal de maturidade. Além disso, tudo que podia ganhar era necessário em casa. Logo que pôde sair da escola, suas mãos estavam ocupadas com o trabalho. Ele trabalhou com jardinagem por um tempo, mas estava empregado numa fábrica de papel quando teve a maravilhosa experiência e o chamado para o ministério.
Nenhuma universidade jamais teve a oportunidade de moldá-lo. Ele foi treinado pela mão de Deus para o ministério, não tendo freqüentado curso teológico formal. Talvez isso tenha diminuído seu "status" aos olhos de alguns, mas não diminuiu seu zelo pelo bem-estar moral e espiritual do seu próximo. E, afinal, não é o que o homem adquire com a escolaridade, mas o que o homem realiza que tem valor entre homens justos.
A Palavra de Deus era Sua Doutrina
Ele tinha uma mente organizada, o que ficou mais evidente com o passar do tempo, e era um estudante dedicado de obras teológicas. Quando jovem, absorveu muito da doutrina calvinista, mas do tipo muito rígido e restrito. Porém, à medida em que cresceu em graça e conhecimento, sua mente se expandiu, e não teve dificuldade em crer em qualquer verdade ou sistema de doutrina que tivesse base bíblica. Ele adotou e seguiu a Soberania Divina e o Livre Arbítrio como esses termos são entendidos popularmente, acreditando que eram baseados na Palavra de Deus. Dizia não saber explicar como eles co-existem, e não discutia sobre esses termos, reconhecendo, como os homens mais sábios e dedicados de todas as gerações, que eles são assuntos de fé e não de debate.
Ele era um estudante zeloso da Bíblia. Lia a Escritura Sagrada. Meditava nela. Usava qualquer comentário que pudesse esclarecê-la, ou que o ajudaria a aprender com ela. Submeteu-se à sua autoridade. Interpretou-a. Poucos podiam usá-la melhor que ele "para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça". Aceitava qualquer forma de doutrina encontrada nela. Fazia isso com persistência. Apegava-se a toda instrução que ela lhe dava. Ele a amava como à sua própria vida. Toda doutrina que não se encontrava nas Escrituras Sagradas, não importava quão bem apresentada, nem por quem fosse proclamada, não era aceita por ele. "Assim diz o Senhor" era o seu lema.
Ele se firmava na rocha da revelação. As teorias dos homens eram areia para ele. A Palavra de Deus era rocha. Sempre provava seu valor, e não se envergonhava de declarar sua fé nela. Sempre citava textos de forma impressionante, e os homens lembrariam do texto sobre o qual tinha pregado mesmo que não se lembrassem de mais nada.
Um homem de negócios em Glasgow lembra-se de vê-lo num salão em Kilbarchan há cerca de vinte anos atrás citando 1 João 1.7: "E o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado". As palavras "todo pecado" foram repetidas por ele três vezes, cada vez com maior ênfase. "Há algo nisso, rapaz", o senhor disse para si mesmo. Certamente havia, e no tempo determinado esse "algo" foi visto.
Qualquer Esquina Era Seu Púlpito
Quando Deus precisa de um homem para o Seu serviço Ele sabe onde procurá-lo. Ele observa o campo. Ele vê a necessidade. Ele escolhe o homem. Ele chamou Eliseu do arado, Amós do rebanho. Pedro do barco de pesca nas margens do Mar da Galiléia, e John Harper da indústria de papel. E quando Deus coloca um homem num cargo, ninguém pode "demiti-lo". Um lugar será encontrado para ele quando o dom e o chamado de Deus se manifestarem, e se não houver lugar para ele na igreja até que seja provado, testado e confirmado, Deus encontrará para ele um local de serviço para manifestar Seu chamado divino.
No serviço de Deus os cooperadores são sempre necessários, homens que estejam dispostos a trabalhar e sofrer, gastar e serem gastos, suportar repreensão e passar por dificuldades como bons soldados de Jesus Cristo. John Harper era um cooperador — um cooperador de Deus (1 Coríntios 3.9), um homem que se dedicava de coração, alma, força e mente a todo serviço que prestava. No inicio da sua carreira não sonhava com o púlpito da igreja. Se visse uma esquina vazia, seja qual fosse o lugar, ele a enchia de ouvintes. Esse era o seu púlpito, e fazia proveito dele. Por toda a região onde vivia, depois de receber o revestimento especial de poder do alto, saiu pregando a história da graça redentora. Bridge-of-Weir, Kilbarchan, Elderslie, Johnstone, Linwood., e outros lugares o encontravam à noite depois do dia de trabalho terminar, proclamando com esperança vigorosa a história do amor de Deus aos homens. Seu coração estava incandescente. Uma coisa ele fazia então, e a fez até o fim — ele se esforçava para trazer homens do pecado para Deus.
Essa é uma obra que deve continuar, "a história deve ser proclamada." Os que estão afastados do Senhor devem ser encontrados, avisados, convidados, e convencidos a abandonar o pecado e seguir a Cristo. Se um dos servos de Deus é levado, alguém deve estar atento ao chamado divino para se apresentar e preencher o espaço vazio. Não para servir necessariamente na mesma área, mas para manter o testemunho vivo. O número de testemunhas não deve diminuir. Hoje o mundo precisa do Evangelho tanto quanto antes. O coração de Deus bate tão forte quanto antes. O sangue de Jesus é tão eficaz quanto antes. O Espírito de Deus está tão presente quanto antes, mas infelizmente deve estar tão entristecido que o Seu poder é menos evidente do que deveria ser. Haverá trabalho enquanto é dia. Este é o dia da salvação. A noite vem, em que nenhum homem poderá trabalhar.
"É Maravilhoso Ser Enviado de Deus"
Depois de cinco ou seis anos de dedicação, serviço evangelístico constante, esforço na fábrica durante o dia e à noite nos distritos rurais em redor convidando homens a se prepararem para o encontro com Deus, o reverendo E. A. Carter da Missão Pioneira Batista de Londres "descobriu" o jovem pregador e o liberou para dedicar todo o seu tempo e toda a sua energia à obra que tanto amava. Com o patrocínio da Missão, uma obra Batista foi iniciada em Govan, um dos subúrbios de Glasgow, onde havia bastante espaço para um trabalho ativo.
Durante algum tempo, cultos evangelístícos foram realizados, depois uma igreja foi formada. O culto de inauguração foi dirigido pelo pastor J. B. Frame, e no dia seguinte um sermão foi pregado pelo Reitor MacGregor da Faculdade Dunoon sobre as palavras: "Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João" (João 1.6). A passagem deve ter provocado sorrisos, mas era muito adequada à ocasião. Naquele salão estava um homem que sem dúvida alguma, como resultados futuros provaram, foi enviado por Deus, e seu nome era João (John). É maravilhoso ser enviado de Deus. As referências que tinha consigo eram os sinais de que Deus já o moldara. Ele não tinha outras. Mas essas eram suficientes para incentivar a certeza de que Deus o enviara.
Apesar de jovem na idade, ele já tinha um histórico confiável. O selo de Deus foi colocado na sua obra nos diversos lugares onde ele deu um bom testemunho, e agora em meio a uma multidão acreditava-se que seria mais útil do que nunca. Essas esperanças não foram desmentidas. Quando Deus envia um homem Ele proporciona toda a graça necessária. Ele não deixa nada de bom faltar para aqueles que andam corretamente no caminho da obra à qual Ele os chama. Homens enviados por Deus com uma mensagem do Evangelho são guardiões de um poder que converte pecadores do erro dos seus caminhos.
Mas se os homens saem antes de Deus enviá-los, tais resultados não aparecem. Na época de Jeremias, Deus reclamou através dele daqueles que "falam as visões do seu coração, não o que vem da boca do Senhor"
(Jeremias 23.16). Sobre eles disse: "Não mandei esses profetas; todavia, eles foram correndo, não lhes falei a eles, contudo, profetizaram. Mas, se tivessem estado no meu conselho, então, teriam feito ouvir as minhas palavras ao meu povo e o teriam feito voltar do seu mau caminho e da maldade das suas ações" (Jeremias 23.21-22). Essa é uma descrição dos homens que não são enviados. Eles não estão no conselho de Deus. Não afastam as pessoas dos seus maus caminhos, e das suas ações malignas.
Um homem enviado por Deus proclamará a Palavra de Deus. Não declarará uma visão do seu próprio coração. O resultado será que os homens abandonarão seus caminhos maus, e se prostrarão em arrependimento e adoração aos pés dEle, que foi crucificado, mas que agora é o Salvador glorificado. Sob John Harper os homens abandonaram seus caminhos maus e suas obras más. Eles renegaram a impureza e seguiram a santidade sem a qual ninguém verá o Senhor.
Poderia parecer um evento sem importância para alguns a consagração daquele jovem para o ministério de Deus naquele dia. Mas centenas e centenas de pessoas têm razão para agradecer a Deus por terem visto sua face, ou ouvido sua voz. Durante cerca de dezoito meses ele se esforçou sem cessar em Govan, trabalhando, orando, pregando, convidando, tocando os corações e as vidas de alguns com seus apelos sinceros, e reunindo à sua volta um pequeno grupo de homens e mulheres que viram nele as marcas de um homem enviado por Deus.
"Pregando Tudo o que Tinha Direito"
No início do seu trabalho em Govan um dos membros de um conjunto evangelístico foi enviado como representante da cidade para falar num culto missionário em Govan. Quando chegou no cruzamento de Govan, ele viu um jovem de pé "pregando tudo o que tinha direito". "Quem é’?", perguntou a um homem que estava com ele. "Esse é o pastor da Missão Batista", foi a resposta. A impressão que ficou naquela noite, reforçada mais tarde com conhecimento maior do jovem que estava "pregando tudo o que tinha direito", segundo ele, levou-o a participar da igreja quando ela foi formada, e fez dele um dos amigos mais leais do Sr. Harper.
Depois de um ano e meio de trabalho em Govan, Harper mudou-se para Gordon Halls, na rua Paisley. Neste lugar, no dia 5 de setembro de 1897, formou-se uma igreja com 25 membros, alguns dos quais vieram com ele de Govan. A igreja foi chamada de Igreja Batista de Paisley Road, o nome que ainda tem. Mas foi sugerido que deveria chamar-se Igreja Memorial Harper (e agora ela é conhecida assim).
Homens e mulheres de todas as idades juntaram-se ao jovem pastor, e sob a sua liderança, a obra foi feita sem formalidades. Em todos os cultos na igreja fazia-se o máximo para ganhar homens para Cristo. Do lado de fora, eram feitas pregações nas esquinas, nos portões de prédios públicos durante as refeições, e sempre que houvesse alguém para ouvir. A rede era lançada para todos os lados. O zelo e o entusiasmo dos obreiros pareciam ilimitados. Almas foram ganhas, a causa prosperava, o número de membros aumentava. A fé que age pelo amor e é radiante de esperança, animou os obreiros, e os levou de vitória em vitória sobre as forças da incredulidade.
Depois de quatro anos em Gordon Halls, um terreno foi adquirido no distrito de Plantation, e um galpão de ferro, com capacidade para quinhentas ou seiscentas pessoas, foi erguido. A obra foi transferida, tendo esse local como centro, e do lado de dentro foram vistas maravilhas do poder redentor de Deus. Uma fonte contínua de misericórdia para perdoar jorrava nos cultos, e há seis anos atrás o prédio teve que ser ampliado para dar espaço para as exigências crescentes da obra. Ele fica no meio de uma população densa de trabalhadores. Ninguém, por mais próximo da obra realizada jamais poderá saber completamente quanto bem foi realizado pelo ministério de John Harper.
"Aquele Homem, o Sr. Harper, Estava Pregando na Esquina, e Eu Aceitei Jesus"
O superintendente de um grande salão evangelístico em Glasgow estava visitando há algum tempo atrás um homem idoso em High Street, a duas milhas de distâneia da Igreja de Paisley Road. Perguntaram ao homem, que tinha 80 anos, se ele confiava em Jesus. Imediatamente ele respondeu que sim. Quando perguntaram há quanto tempo ele confiava no Salvador, ele disse: "Nove anos". "Quantos anos você tinha, então?" "Tinha acabado de fazer 70 anos". "E como isso aconteceu?" "Bem, eu estava passando em Plantation, e aquele homem, o Sr. Harper, estava pregando na esquina, e eu aceitei Jesus ali mesmo". Dentro e nos arredores do distrito onde a igreja se situava, muitas casas foram abençoadas, iluminadas, transformadas, pela pregação do servo do Senhor, cujo fim tantos lamentam. A igreja que foi formada com 25 membros tinha quase 500 membros quando, depois de 13 anos de trabalho, ele foi, em setembro de 1910, assumir os deveres do pastorado na Igreja de Walworth Road em Londres. O culto de despedida foi inesquecível. O galpão de ferro, que tinha lugar para 900 pessoas, fora muito pequeno para acomodar todos os que queriam assistir ao culto, e o espaço de uma grande igreja na vizinhança foi graciosamente cedido para a ocasião. Ela ficou lotada.
Uma Dedicação Intensa
Ele sempre foi um pregador fervoroso. Nunca foi superficial. Nunca foi um mero falador. Ele sempre foi um homem que fixava seu olhar na necessidade de almas preciosas. Mas durante os últimos anos do seu ministério em Glasgow, a sua pregação parecia alcançar um novo patamar. Havia uma dedicação intensa que crescia com o passar dos anos. Seu poder de pregação certas vezes tinha algo extraordinário. Não era simplesmente quando fazia o apelo para os incrédulos se reconciliarem com Deus, mas também quando exortava os filhos de Deus a coisas maiores. Sem dúvida, como aqueles dentre nós que o conheciam podem testemunhar, o desejo fervoroso e impetuoso que se expressava nas suas pregações públicas brotava das horas prolongadas de oração a que ele se dedicava. Ele era antes de mais nada um homem de oração. Quase um mês antes da sua morte, quando estava em Glasgow para uma visita, ele passou meia hora tomando chá com alguns de nós, e a última palavra que lembramos ter dito foi que a necessidade de hoje era uma vida de oração mais intensa.
Seu breve ministério em Walworth Road foi claramente abençoado por Deus. Melhoras foram feitas. O número de membros da igreja aumentou. Tudo parecia prometedor. Novos laços de interesse se formaram. Novas amizades foram feitas. Então veio o convite para dirigir cultos especiais na Igreja Moody em Chicago durante o inverno passado. Referências ao trabalho notável aparecem nas últimas páginas deste livro.
Quando voltou para Londres em janeiro, não se achava que ele concordaria em fazer outra visita tão cedo como programou. Mas ele iria "no começo de abril", nos disse duas semanas antes de partir. "Por que vai voltar já’? Certamente não é para dirigir cultos especiais novamente?"... "Oh, não", ele disse: "eu vou dirigir os cultos normais na Igreja Moody, e falar em conferências e outras reuniões em outros lugares". Cheio de esperanças ele embarcou no desventurado navio, e no caminho encontrou o seu fim. E isso que devemos dizer? Não é melhor dizermos que ele encontrou o seu Senhor no caminho?
Naquela noite de domingo, apenas uma hora ou duas antes do Titanic colidir com o iceberg, ele olhou para o céu e vendo um brilho vermelho no oeste, disse: "Vai fazer um belo dia amanhã". Sim, faria, mas a beleza que ele veria não era aquela à qual se referia quando disse essas palavras. Ele veria a beleza do Salvador.
Depois de pouco tempo de casado, ele perdeu a sua esposa no começo de 1906. Sua filhinha, Nana, agora tem seis anos e alguns meses. A bênção do Senhor certamente estará sobre aquela menininha órfã. "Pai dos órfãos... é Deus em sua santa morada" (Salmo 68.5).

JOHN WESLEY


Em 28 de junho de 1703 nascia em Lincolnshire, na Inglaterra, o fundador da Igreja Metodista Wesleyana: John Wesley, cuja esposa chamava-se Susanna, era o 12º dos dezenove filhos do reverendo Samuel Wesley, um pároco de Epworth.Quando completava seis anos, quase perdeu a vida num incêndio à noite, provocado por um grupo de malfeitores. O fogo se alastrava no teto de palha da paróquia onde eles moravam, começando a estilhaçar brasas sobre as camas. Subitamente, Hetty Wesley, um dos irmãos menores, acordou assustado e correu até o quarto de sua mãe. E logo todo mundo estava em pé, tentando conter o domínio das chamas, enquanto a pequena criada, agarrando o bebê Charles nos braços, chamava as crianças para um lugar mais seguro. A essa altura, Twice Susanna Wesley forçava a porta contra as costas, numa tentativa desenfreada de proteger-se.A família finalmente conseguiu sair de casa e, apavorada, reuniu-se no jardim, pois descobrira que o pequeno Jeckie havia ficado lá dentro dormindo. Voltaram correndo, mas era tarde: a escada estava em cinzas e tornava impossível resgatá-lo. O rapaz chegou até aparecer na janela, porém não podiam segurá-lo, visto que a casa ficava no segundo piso. Todavia, um pequeno homem pulou sobre o largos ombros do pai de Wesley e, num esforço desmedido, conseguiu salvar a criança.Um Estudante de CristoConsequentemente, uma profunda ternura passou a residir no coração de Jackie que, mesmo depois de homem, considerava que havia escapado aquela noite porque Deus tinha um propósito muito especial em sua vida. Várias vezes ele chegou a comemorar este dia em seu diário secreto que escreveu: "Arrancado das Chamas".Seis anos depois, em Charter House School, Jeckie matriculou-se na Universidade em Oxford, tornando-se um estudante da igreja de Cristo. Quatro anos mais tarde graduou-se em bacharel de artes e em 1726 foi eleito acadêmico do Colégio Lincoln.Enquanto John Wesley era ordenado ao ministério e ajudava o pai em casa, Charles, o irmão mais novo, organizava em Oxford um pequeno grupo de estudantes para orações regulares, estudos bíblicos e outros serviços cristãos. O Clube Santo, como era chamado, incluía vários integrantes, que, mais tarde, tornaram-se pioneiros de um avivamento, ocorrido no século XVIII, destacando-se, entre outros, George Whitfield.Obedecendo ao Senhor, John Wesley viajou para colônia em Georgia, como capelão, em 1736. Charles nesta época, era secretário do governador e o piedoso trabalho em Georgia, embora com muitas lutas, teve sucesso mais tarde. O reverendo George Whitfield, depois de visitar a sede do movimento, escreveu: "O eficiente trabalho de John Wesley na América é impressionante. Seu nome é muito precioso entre o povo, pois tem edificado as fundações que, espero, nem homens nem demônios a abalem".Aprendendo a ConfiarEm contato com German Moravian Christians na América, Wesley questionava sobre as verdades cristãs. Sabia muito bem que o êxito de seus trabalhos estava nas mãos de Deus e, por isso, começou a buscá-lo em oração. Não demorou muito tempo e, em 24 de maio de 1738, acabou encontrando a resposta quando, de volta para a Inglaterra, resolveu registrar tudo quanto acontecera naquele dia: "A tarde, visitando a sociedade em Aldersgate Street, li o ‘Prefácio da epístola aos Romanos’ na versão de Lutero, cujas palavras tocaram-me profundamente. Senti meu coração bater fortemente. E, desde aquele momento, aprendi a confiar em Cristo como meu Salvador. Estou seguro de que os meus pecados estão perdoados. Me salvei da lei do pecado e da morte". Esta experiência mudou o rumo da vida de Wesley que, a partir daquele momento, passou a ser uma nova criatura, sendo consagrado o maior apóstolo da Inglaterra.John Wesley começou o trabalho de pregação ao ar livre quando viajava para Bristol a fim de ajudar George Whitfield, que na época era conhecido como o mais eloquente pregador da Inglaterra. Wesley, a princípio, rejeitou a idéia, mas uma vez convencido da vontade de Deus, acabou se tornando mais famoso que Whitfield. Viajava 11 quilômetros por ano. Experimentou os mais cruéis sofrimentos e oposições em toda sua vida. Estava frequentemente em perigo.Embora fosse sábio e proeminente, o itinerante evangelista era um homem simples e executou muitas obras sociais. As suas poderosas mensagens muito influenciaram a igreja que, no ano de 1739, adquiriu uma sede para o movimento protestante, que crescia vertigiosamente. Comprou uma casa de fundição em ruínas, na cidade de Moofield, e transformou-a num templo. O prédio passou por uma rigorosa reforma que custou, na época, 800 libras (quantia superior ao da compra que foi de 115 libras), mas valeu a pena. Depois de pronta, a capela passou a comportar cerca de mil e quinhentas pessoas.Era o primeiro edifício metodista em Londres, onde a verdadeira doutrina de Cristo era proclamada. Pessoas sedentas por ouvir a gloriosa mensagem do evangelho cruzavam todos os domingos a escuridão das estradas de Moorfield com lanternas, para ouvir os ensinamentos de Wesley. O prédio dispunha de sala de reuniões, com capacidade para 300 pessoas, sala de aula e biblioteca.Mais tarde, John Wesley instalou a sua própria casa na parte superior da capela, onde passou a morar com a sua família. Em 1746, abriu um centro de atendimento médico e escola gratuitos, com capacidade para 60 estudantes, contratou farmacêutico, cirurgião e dois professores e, em 1748, alugou uma casa conjugada para refugiar viúvas e crianças.Muitos foram os patrimônios conseguidos pela igreja durante os 40 anos do movimento metodista em Moorfield, organizada por John Wesley. Entretanto, devido a expiração do contrato imobiliário, a sede teve de mudar-se para um outro lugar.Próximo dali, em City House, encontrava-se um vasto campo onde jaziam os túmulos de Bunhill Field e o de sua esposa Sussana Wesley. Um lugar de pântanos, recentemente aterrado, onde foi construída a catedral de Saint Paul. Havia também no local algumas pedras de moinho, utilizadas para moer milho trazido do Thames, que era transformado em trigo.John Wesley alugou quatro mil metros quadrados destas terras em 1777 para construir a nova capela. E, finalmente, em 21 de abril do mesmo ano, sob forte chuva, lançou a pedra fundamental, com a seguinte gravação: "Provavelmente, esta pedra não será vista por algum olho humano, mas permanecerá até que a terra e o trabalho sejam consumados". Naquele dia, Wesley improvisou um púlpito sobre a pedra e pregou em Nm 23.23.A RecompensaEm 1 de novembro de 1778, dezoito meses depois, no Dia de Todos os Santos, a capela estava próxima de ser aberta para a adoração pública. Apesar dos ventos das dificuldades (além de ter contraído muitas dívidas, os trabalhadores tiveram as ferramentas roubadas), Deus recompensou grandemente o esforço de Wesley, levantando voluntários dentre os membros. O rei George III, por exemplo, doou mastros de navios de guerra para o suporte das galerias.Conta a história que um certo dia Wesley ficou de um lado do templo e Taylor, um dos cooperadores do outro, com os chapéus nas mãos, e conseguiram arrecadar 7 libras; o suficiente para a conclusão das obras. Toda a galeria foi coberta com gesso e os bancos de madeira de carvalho, doadas pelas igrejas da América, Canadá, Sul da África, Austrália, Oeste da Índia e Irlanda. As janelas vitrificadas, as impressões no teto foram trabalhados no estilo Adams (réplica antiga), e a casa de Wesley construída num pátio em frente à capela. Estas raridades, depois de reformadas em 1880, no centenário da morte de Wesley, memorizam as epopéias deste bravo soldado de Cristo.Sua MorteMesmo depois de velho quase cego e paralítico, John Wesley continuava pregando em City Road e Latherhead. E, quando percebeu que sua vida estava chegando ao fim sentou-se numa cama, bebeu um chá e cantou:"Quando alegre eu deitar este corpo e minha vida for coroada de bênção, quão triunfante será o meu fim!Eu glorificarei a meu Criador enquanto tenho fôlego;E, quando a minha voz se perder na morte, empregarei minhas forças; em meus dias o glorificarei enquanto tiver fôlego até o fim de minha existência".Wesley foi enterrado no Jardim-túmulo, em frente à capela em City Road, sob as luzes das lanternas, na manhã de 2 de março de 1791. Morreu com os olhos abertos e balbuciando a seguinte palavra: "Farwell" (adeus). Cerca de 10 mil pessoas acompanharam o funeral. E a lápide até hoje indica o significado histórico: "À memória do venerável John Wesley: o último companheiro do Lincoln College, Oxford..."

JOHN HUS

John Hus nasceu por volta do ano 1370, na Boêmia - região que, no mapa geopolítico mundial, é ocupada, hoje, pela República Tcheca, país do Leste Europeu. Em 1400, foi ordenado sacerdote e, desde o início de seu ministério, quando assumiu o púlpito da Capela de Belém, em Praga, tomou-se um estorvo, um incômodo para alguns de seus colegas. Pregava insistentemente contra os privilégios do clero, e defendia a necessidade urgente de uma reforma religiosa. A eloqüência de suas pregações fez com que, rapidamente, boa parte da população o seguisse.
A nobreza também se rendeu ao seu discurso reformista e, há muito tempo, tentava encontrar uma forma de limitar o poder eclesiástico. Calcula-se que, na época, metade do território nacional boêmio pertencia à Igreja Católica, enquanto à Coroa cabia apenas a sexta parte. No mesmo período, com o apoio das autoridades, Hus traduziu o Novo Testamento para a língua boêmia e tornou-se um simpatizante das obras de John Wycliff (1329-1384), um reformador inglês.
Impedido de pregar - Influenciado por algumas das doutrinas wiclifistas, Hus pregava, dentre outros pontos, a autoridade suprema da Bíblia e a predestinação - doutrinas negadas, até hoje, pela Igreja Católica. Era a época em que existiam três papas comandando a Igreja, e ninguém sabia ao certo quem era o legítimo. Feito reitor da Universidade de Praga, Hus apoiava Alexandre V, eleito no Concílio de Pisa. No entanto, o arcebispo local era fiel a um outro papa - Gregório XII - e, por causa da disputa política, o arcebispo fez com que Hus fosse impedido de pregar.
Hus - que significa ganso na língua boêmia - não obedeceu à proibição e, por isso, foi excomungado em 1411. Entretanto, seu pior ato de insubordinação, e o que gerou sua condenação à morte, foi a crítica feroz a uma atitude do terceiro papa, João XXIII. Em guerra contra o rei de Nápoles, aquele papa decidiu financiar o conflito com a venda de indulgências (remissão de pecados mediante pagamento à Igreja com determinada quantia em dinheiro). Os vendedores chegaram à Boêmia, tentando usar todo tipo de método para persuadir seus "fregueses". Hus, imediatamente, protestou e afirmou que só Deus poderia conceder indulgências e ninguém jamais poderia vender algo que procede somente de Deus.
Seu discurso movimentou o país e até passeatas de protesto foram organizadas. Hus foi excomungado pela segunda vez, e mudou-se de Praga para o Sul da Boêmia, a pedido do imperador. Ele permaneceu lá, até que, em 1414, ficou sabendo da realização do concílio da igreja católico-romana de Constança, na Alemanha. O evento, que contaria com a presença de vários reformadores de renome, prometia inaugurar uma nova era na vida da Igreja, pois seria decidido quem era o papa legítimo. Hus foi convidado a expor seu caso e aceitou comparecer. Poucos dias após sua chegada a Constança, foi convidado pelo Papa João XXIII para uma assembléia composta apenas de cardeais. Hus insistiu que estava ali para defender suas idéias diante do concílio e não em uma reunião tão restrita. Antes não tivesse ido.
O boêmio saiu daquela assembléia acusado de heresia e, a partir de então, passou a ser tratado como prisioneiro. Em junho de 1415, finalmente foi julgado pelo concilio. Por aquela época, João XXIII já fora deposto, mas isso não melhorou a situação de Hus. O concilio lhe atribuía uma série de heresias, as quais ele teria de admitir ser o autor. No entanto, em momento algum, a direção do concilio se dispôs a ouvi-lo sobre quais seriam, de fato, suas doutrinas. Hus, obviamente, recusou-se a retratar-se de doutrinas que não havia propagado e, assim, foi condenado à fogueira.
No dia 6 de julho, ele foi levado até a Catedral de Constança para ouvir um sermão sobre a teimosia dos hereges. Em seguida, teve seus cabelos cortados, uma cruz foi desenhada em sua cabeça, e recebeu uma coroa de papel decorada com desenhos de diabinhos. Mais uma vez, exigiram que Hus se retratasse, mas ele não voltou atrás. Atribui-se a Hus as seguintes palavras:
"Estou preparado para morrer na Verdade do Evangelho que ensinei e escrevi". Hus morreu cantando os Salmos, e sua morte deflagrou uma verdadeira revolução contra a Igreja na Boêmia.
Recentemente, o Papa João Paulo II reconheceu o erro de seus "infalíveis" antecessores. Em dezembro de 1999, o líder católico pediu desculpas - embora demasiadamente tardias - pela morte de Hus. Na ocasião, falando sobre o reformador tcheco em um simpósio internacional promovido pelo Vaticano, João Paulo II afirmou: "Hoje, às vésperas do Grande Jubileu, sinto a necessidade de expressar profundo arrependimento pela morte cruel infligida a John Hus e pelas conseqüentes marcas de conflito e divisão deixadas nas mentes e nos corações do povo boêmio".
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