Em menos de um minuto, o funcionário público José Ferreira Batista, 62, participou de uma sessão de "descarrego" na calçada da rua da Consolação, no centro de São Paulo. Ele caminhava para o trabalho, no Tribunal de Justiça, quando foi convidado por dois pastores evangélicos para receber uma oração rápida em uma banquinha --do tamanho usado pelos camelôs-- onde havia uma Bíblia e uma taça com óleo.
"Em nome do Senhor seja afastada toda a energia negativa, no setor profissional, no sentimental e na saúde. Sai!", disse o pastor Israel Alves da Silva, segurando a cabeça de Batista após ungi-la com óleo.
"Você sente o prazer que te eleva ao encontro de um espírito invisível", disse o servidor Batista, que é evangélico.
O pastor Israel e seu colega Joaquim Cassiano Cândido escolheram o centro para oferecer orações gratuitas para funcionários de empresas e comerciantes que têm pouco tempo a perder a caminho do trabalho ou na hora do almoço. Eles dizem pertencer à Igreja Internacional do Reino de Cristo, de São Mateus, na zona leste, e seguem a linha evangélica neopentecostal.
Exorcismo
Segundo o teólogo Fernando Altemeyer Júnior, professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica), as igrejas neopentecostais surgiram na década de 90 e costumam ter como tema a prosperidade e o sucesso profissional.
Ele diz que a pregação na rua sempre fez parte da história das religiões. "No catolicismo surgiram as procissões e o Corpus Christi, no protestantismo [a cerimônia] era feita nas casas. A missão do cristianismo é evangelizar".
Para ele, a novidade do trabalho foi usar na rua o ritual do exorcismo (ou "descarrego", para os evangélicos), que surgiu na Igreja Católica e era praticado nas igrejas e reservadamente.
Na semana passada, próximo à igreja da Consolação, em uma hora 12 pessoas receberam orações. Segundo os pastores, a média é de 60 pessoas por dia. Elas se aproximam, recebem folhetos, assinam um livro e recebem as orações de descarrego, que, segundo os pastores, ajudam a combater doenças e melhoram a vida profissional.
"Eu estava saindo da igreja da Consolação quando vi a barraquinha। Sou católica, mas Deus é um só e todas as orações são boas", disse a aposentada Joana de Araújo Alves, 63.
फोंट
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u421899.shtml
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