Sua vida é uma página da web aberta?

Cada vez mais somos o que clicamos. E nos expomos praticamente o tempo todo que estamos online – nas novas redes sociais ou fora delas
Por Rafael Tonon
Minha vida nunca foi um livro aberto. Não sou o tipo de cara que conta tudo para os amigos ou que é o primeiro a dar um testemunho pessoal em uma mesa de bar - principalmente se ela estiver repleta de desconhecidos.
Na verdade, sou um pouco avesso à ideia de ter minha intimidade invadida. Prefiro o caminho inverso: se eu tiver algo para contar, pode deixar que eu mesmo vou atrás de fazer isso. Mas, desde que me cadastrei no Orkut, em 2004, tenho repensado o meu conceito de privacidade.
Ao entrar em uma rede social tive de me acostumar com a possibilidade de ter pelo menos uma página (mesmo que virtual) do livro da minha vida exposta para quem quiser ver.
Havia compensações. Além de rever pessoas com as quais eu tinha perdido contato, eu podia aplacar minha curiosidade sobre a vida alheia. Ver fotos para saber como o tempo mudou a feição de ex-colegas, descobrir se eles estavam casados, onde trabalhavam, o que tinham feito de sua vida. Isso tudo em segredo, sem nenhuma interação social e livre daqueles encontros inevitavelmente sem graça que ocorrem nos corredores dos shoppings.
Mas, se eu fuçava nas páginas alheias, o raciocínio contrário era lógico: minha página provavelmente era bisbilhotada. Estamos na internet para ver e ser vistos.
No Orkut ou no Facebook, nos blogs ou no YouTube. É muito difícil (impossível?) escolher apenas um lado dessa moeda (a não ser que você se esconda atrás de um perfil falso, claro). Todo mundo, ao mesmo tempo, é protagonista e espectador do show.
O advento do Twitter - criado em 2006, mas que só recentemente virou febre no Brasil - sugere que cada vez mais gente quer, sim, se expor.
No Twitter, uma mistura entre blog e torpedo, você se cadastra, cria sua página e a atualiza com mensagens de até 140 caracteres (como nos celulares). O site propõe a pergunta - 'O que você está fazendo?' - e os usuários respondem: alguns contam o que comeram no almoço, outros comentam notícias que leram e muitos põem ali suas indagações, seu estado de espírito.
E há também, é claro, uma multidão de voyeurs.
É possível 'seguir' qualquer um que esteja no Twitter para acompanhar o que ele escreve. Assim que o usuário atualiza algum post, todos os seguidores são avisados. Até quem não está cadastrado na rede pode ter acesso à página de algum twitteiro. Como dá para postar também do celular, a página vira um arquivo instantâneo de ações e pensamentos dos seus mais de 6 milhões de usuários. Atualizados o tempo todo.

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