Quem é a 'senhora eleita'de II Jo?


Após uma saudação inicial, em que declara amar seus leitores na verdade (2Jo 1,2), João os abençoa com a graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo (2Jo 3). Depois de comunicar que havia se encontrado com membros da igreja que andavam de acordo com a verdade do evangelho (2 Jo 4), o apóstolo passa a exortá-los a que obedeçam ao mandamento do amor fraterno (2Jo 4-6). A razão apresentada é a chegada de falsos mestres que negam que Jesus veio em carne (2Jo 7). Os leitores deveriam acautelar-se contra eles (2Jo 8).
Esses falsos mestres poderiam ser reconhecidos por ultrapassarem a doutrina de Cristo, isto é, negarem a encarnação. Os que fazem isto não procedem de Deus (2Jo 9) e não deveriam ser nem mesmo recebidos em suas casas, caso aparecessem, sob pena de cumplicidade (2Jo 10,11). Apesar de ainda ter muita coisa a escrever, João prefere deixar para uma conversa pessoal, numa futura visita à igreja (2Jo 12). Ele conclui retransmitindo as saudações da igreja irmã (2Jo 13).

A carta pode ser sintetizada em quatro partes:
I. Destinatários e saudações, 2Jo 1-3
II. Vivendo em verdade e amor, 2Jo 4-6
III. Cuidado com os falsos ensinamentos, 2Jo 7-11
IV. Palavras finais e saudação, 2Jo 12,13

Quem é a “senhora eleita”?

João destinou a sua segunda carta “à senhora eleita” (ἐκλεκτῇ κυρίᾳ) e aos seus filhos (2Jo 1). Quem é esta “senhora eleita”? Há entre os biblistas 3 opiniões diferentes, a saber:
Primeira, que se trata de uma senhora cristã e de seus filhos, que eram conhecidos do apóstolo João. A carta, portanto, teria um cunho estritamente pessoal e almejava ajudar aquela família a ficar firme contra investidas de falsos mestres. Essa possibilidade é plausível e tem tido alguns defensores.

A Segunda, que a destinatária se chamava Kuria (da palavra kuri,a, “senhora”), ou Eclecta (“eleita”) ou Eclecta Kuria, uma combinação das duas. Essa hipótese é muito improvável, pois não há comprovação na literatura de que Eclecta fosse um nome próprio. Mesmo que Kuria fosse um nome próprio, era raro. “A combinação de dois nomes tão raros seria incrível” (D. Guthrie).

Terceira, que se trata de uma referência figurada à igreja e seus membros. Esta é a minha opinião, pois tem a seu favor vários argumentos. Jerônimo desde cedo a defendia.

O apóstolo João, ao final da carta, envia saudações dos “filhos da tua irmã eleita” (2Jo 13), uma referência a uma igreja local. O teor da carta, especialmente as advertências contra os falsos mestres, são mais apropriadas se dirigidas a uma igreja local e seus membros, como por exemplo, a advertência para não receber em casa algum dos falsos profetas (2Jo 10,11)
O uso de “eleita” (ἐκλεκτῇ) para uma congregação local se encontra em 1 Pedro, “Aquela que se encontra em Babilônia, também eleita, vos saúda (1 Pe 5.13).
Também é relativamente comum encontrarmos na Escritura personificações femininas de nações e cidades (cf. “a filha de Sião”, 2Rs 19.21; Sl 9.14; Mt 21.5) e da própria igreja de Cristo, “a noiva do Cordeiro” (cf. Ef 5.22-23; 2 Co 11.2; Ap 19.7).
Um outro argumento em favor da igreja em sentido figurado, é que João, a partir do versículo 5, dirige-se à “senhora eleita” (ἐκλεκτῇ κυρίᾳ)no plural: “ouvistes” e “andeis” (2Jo 6); “acautelai-vos” (2Jo 8); “não o recebais” (2Jo 10), o que mostra que ele tinha em mente um público maior, ou seja, uma comunidade local de cristãos.
Finalmente, a “senhora eleita” (ἐκλεκτῇ κυρίᾳ) era amada “por todos os que conhecem a verdade” (2Jo 1), uma afirmação que cabe melhor no caso de uma igreja cristã.
Nele, Pr Marcelo de Oliveira
Bibliografia: Stott, John. I,II e III João (Introd. e Comentário) – Ed.Vida Nova
Lopes, Augustus Nicodemos. II, III João e Judas. Ed. Cultura Cristã

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